Publicado em: 6 de novembro de 2025

Levantamento que revela como se move a metrópole ganhará coleta por aplicativo, GPS e monitoramento em tempo real — o mapa da mobilidade agora caberá na palma da mão
ALEXANDRE PELEGI
A pesquisa que há quase seis décadas desenha o retrato mais preciso da mobilidade paulista está prestes a dar um salto tecnológico.
O Metrô de São Paulo vai transformar a tradicional Pesquisa Origem e Destino (OD) — referência nacional e base de planejamento do transporte metropolitano — em uma operação totalmente digital, apoiada em aplicativos móveis, georreferenciamento e monitoramento em tempo real.
Realizada desde 1967, a OD é o principal instrumento de diagnóstico da mobilidade urbana da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). É a partir dela que se compreende como, quando e por que os paulistanos se deslocam: de casa para o trabalho, da escola ao lazer, do transporte coletivo ao individual. Cada edição funciona como um raio-x das dinâmicas urbanas, servindo de guia para investimentos em metrôs, trens, corredores de ônibus, bilhetagem e integração tarifária.
Agora, o levantamento entra de vez no século 21. O Metrô quer substituir pranchetas e planilhas por um sistema digital integrado, capaz de acompanhar em tempo real o avanço da pesquisa e consolidar instantaneamente os dados coletados em campo.
Chamamento público abre a nova fase
Para viabilizar a inovação, o Metrô publicou o Aviso de Chamamento Público nº 10022660, convidando empresas a apresentar manifestações de interesse na criação de um sistema digital de gerenciamento, coleta e monitoramento de dados, com georreferenciamento de endereços, hospedagem de informações e suporte técnico à Pesquisa Origem e Destino Domiciliar 2027 (OD 2027).
O edital, divulgado no Diário Oficial do Estado nesta quarta-feira (5), marca a transição definitiva para o ambiente digital. A coleta será feita presencialmente, podendo ser complementada por telefone, em uma metodologia híbrida que combina o contato direto com a agilidade das plataformas digitais.
Um sistema inteligente para mapear deslocamentos
Segundo o Termo de Referência, o novo sistema funcionará como o cérebro digital da pesquisa, integrando todas as etapas do trabalho de campo: desde o arrolamento dos endereços sorteados até a consistência final da base de dados consolidada.
Entre as principais exigências técnicas estão:
- Aplicativo de coleta compatível com funcionamento offline e online (4G/5G), com criptografia de ponta a ponta;
- Interface web restrita a usuários cadastrados e com controle personalizado de acesso;
- Monitoramento em tempo real das equipes e dos domicílios pesquisados;
- Controle automatizado da amostra e substituições;
- Georreferenciamento completo das origens e destinos das viagens, locais de trabalho, estudo e transferências;
- Relatórios de andamento e painéis dinâmicos de dados;
- Sistema de backup automático e rastreabilidade das ações de campo;
- Adequação total à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), com registro de consentimento dos entrevistados.
O Metrô também exige pré-testes das funcionalidades, além da entrega de manuais, questionários, relatórios e exemplos de bancos de dados georreferenciados.
Da prancheta ao painel digital
A digitalização vai encurtar o caminho entre a coleta e a análise dos dados. O que antes demandava semanas de compilação manual passará a ser acompanhado em tempo real, com alertas automáticos, cruzamentos instantâneos e visualização dos resultados em painéis interativos.
Cada pesquisador terá um dispositivo móvel com GPS, capaz de registrar e validar endereços, viagens e transferências, enquanto as informações são sincronizadas automaticamente com o banco central de dados.
O sistema também permitirá a geração automática de cartas e senhas para os domicílios pesquisados, facilitando o agendamento de entrevistas e o atendimento de dúvidas dos participantes. Toda a operação será rastreável, garantindo transparência, controle de qualidade e segurança da informação.
A oitava edição da Pesquisa OD
A OD 2027 será a oitava edição da pesquisa domiciliar, sucedendo a de 2023. Dividida em dez lotes de domicílios, o levantamento mobilizará centenas de pesquisadores e consolidará milhões de registros de viagens.
Desde sua primeira edição, em 1967, a Pesquisa Origem e Destino acompanha a evolução da metrópole: das linhas de bonde e dos primeiros corredores de ônibus à expansão do metrô, das novas centralidades urbanas às mudanças no comportamento de viagem da população.
Com a digitalização, o Metrô pretende acelerar o ciclo de planejamento e atualização dos dados, oferecendo uma visão quase instantânea dos padrões de deslocamento que moldam o transporte público da Grande São Paulo.
Base para entender e planejar o futuro da mobilidade
Mais do que uma pesquisa estatística, a OD é o alicerce técnico das políticas de mobilidade. Ela orienta desde o traçado de novas linhas até o debate sobre financiamento, integração e sustentabilidade.
Com a versão digital, o Metrô de São Paulo consolida seu papel como núcleo de inteligência em mobilidade urbana, transformando o levantamento que nasceu no papel em um painel vivo da metrópole em movimento — um mapa dinâmico que caberá, literalmente, na palma da mão.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte


