Publicado em: 20 de junho de 2025
Pedro Sabino, Coordenador de Planejamento Estratégico e ESG do MetrôRio, conta em entrevista como é transformar propósitos e visões das organizações em impacto real
ALEXANDRE PELEGI/RENATA VERÍSSIMO (ESPECIAL PARA O DIÁRIO DO TRANSPORTE)
Em meio à agitação do UITP Summit, o maior evento de transporte do mundo, Pedro Sabino, Coordenador de Planejamento Estratégico e ESG do MetrôRio, concedeu uma entrevista ao Diário do Transporte na quarta-feira, 18 de junho de 2025. Sabino, que se tornou um dos destaques na capa da newsletter oficial do evento, compartilhou suas impressões sobre o reconhecimento e os avanços do MetrôRio no tema da diversidade e inclusão.
Sabino conversou com a jornalista Renata Veríssimo, da Impacto RV Comunicação, numa colaboração especial para o Diário do Transporte.
Veja a seguir os principais tópicos da conversa:
Surpresa e Significado do Destaque
A aparição na capa da revista oficial do UITP Summit foi uma surpresa “maravilhosa” para Pedro Sabino. Ele revelou que não esperava o reconhecimento e ficou sabendo por um colega brasileiro. Para Sabino, o mais gratificante é ver o tema da diversidade em destaque em um congresso dessa magnitude, o que demonstra a “atenção da UITP” e a relevância do assunto. Ele enfatiza que manter a diversidade relevante é um dos grandes desafios no contexto atual, diante de outras “pautas mais naturais dos negócios“. O destaque, portanto, é um “belo exemplo da crença que a entidade tem na importância desse assunto para o mundo do transporte público“.
A Palestra e o Programa de Diversidade do MetrôRio
A palestra de Sabino no Summit focou em como “colocar diversidade na cultura das empresas para, a partir disso, transformar propósitos e visões das organizações em impacto real“. Ele identificou a oportunidade de discutir diversidade quando soube que um dos seis eixos temáticos principais do evento era a “centralidade nas pessoas“, voltada para discussões sobre “impacto social, transformação, mudança em benefício de populações e comunidades“.
Apresentou um relato, ou “abstract“, sobre o programa de diversidade do MetrôRio. Sabino ressalta que sua intenção não é ensinar, mas sim “trazer uma experiência vivida já de sete anos nesse tema e a partir disso, insights que podem ser úteis para outras empresas“. O objetivo é que outras organizações possam “se beneficiar do que a gente já viveu ao longo de muito tempo para talvez acelerar as jornadas delas“, o que reflete o valor do benchmarking e da troca de experiências em eventos como o Summit.
Os Pilares da Diversidade no MetrôRio
O programa de diversidade do MetrôRio foi implementado no final de 2017 e, desde o início, é focado em quatro grupos: mulheres, pessoas negras, pessoas LGBTI+ e pessoas com deficiência. O objetivo é duplo: de um lado, tornar a empresa “mais diversa e inclusiva, entendendo que isso é um valor para as pessoas, para colaboradores, colaboradoras, e se tornou um valor formal, digamos assim, para a empresa em sua declaração de estratégia“. De outro, a partir da criação desse ambiente interno, gerar um “impacto para o lado de fora“, utilizando os sistemas de transporte como “veículo de diálogo, de comunicação, de propagação de uma mensagem positiva“.
Da Cultura Interna à Comunicação Externa
Internamente, o MetrôRio promove diversas atividades, como grupos de afinidade para discussão do tema entre colaboradores e colaboradoras, além de campanhas de sensibilização e letramento frequentes ao longo do ano, apoiadas nos grupos minorizados. No ano passado, iniciaram um ciclo de sensibilização para a linha de frente, para que o público que lida com estação e operação “entenda um pouco mais desse contexto para traduzir isso numa atuação mais inclusiva, mais atenta no dia a dia“.
O termo “grupos minorizados” é utilizado para aqueles que enfrentam discriminação, preconceito e desigualdade, resultando em menor representatividade e acesso a direitos e oportunidades em comparação com o grupo dominante na sociedade.
Por um bom tempo, a empresa manteve o foco “olhando pra dentro“, com o lema: “antes de aparecer, a gente precisa ser“. Só quando se sentiram “maduros” e com “consistência, com verdade“, que começaram a falar abertamente sobre suas iniciativas. Hoje, o MetrôRio tem uma “história pra contar“, sempre partindo da própria experiência, embora também se nutra de “outros exemplos de contatos com movimentos de fortalecimento de diversidade“. A diversidade foi levada para o lado externo através de campanhas de comunicação e, em um certo momento, para a “declaração estratégica da companhia“.
A Diversidade como Meta Estratégica e o Poder dos Dados
Atualmente, o MetrôRio tem a diversidade de gênero e de raça na liderança da companhia entre suas metas estratégicas. Isso demonstra que há um “entendimento da organização, de que isso é uma pauta presente e permanente“.
Pedro Sabino revelou que a empresa demorou para analisar seus próprios dados de diversidade, apesar de já os possuir. A decisão de investigar os dados gerou uma “mudança radical“, permitindo um melhor entendimento do negócio e das lacunas existentes. Os dados se tornaram cruciais não apenas para entender a organização, mas também para “promover [e] planejar” ações. A “realidade fria” dos dados é fundamental para tirar o tema do campo da “impressão” e do “viés“, auxiliando na conversa com parceiros e aliados. Quando os dados são apresentados e reforçado que o tema é um valor estratégico para a organização, as pessoas tendem a se “comover” e a buscar “fazer algo diferente a partir desse aprendizado“.
Desafios e Ações Direcionadas: O Caso das Mulheres na Manutenção
Apesar dos avanços, o tema da diversidade é “altamente desafiador“, especialmente em um mercado como o de transporte, onde a diversidade “tipicamente não se encontra“. Por exemplo, embora mais da metade da população da empresa seja composta por pessoas negras, refletindo a sociedade, essa diversidade começa a “sumir” nos níveis hierárquicos mais altos.
No caso das mulheres, a empresa sequer reflete a sociedade: apenas cerca de 25% do quadro total é feminino, enquanto demograficamente mulheres são metade da população. Sabino explica que isso possivelmente tem origem no “tipo de negócio“, que é “muito baseado em tecnicismo“.
Para mudar esse cenário e aumentar a presença feminina, especialmente em áreas técnicas, o MetrôRio implementou uma ação específica no programa Jovem Aprendiz. A equipe de manutenção da empresa tem apenas cerca de 9% de mulheres, enquanto a empresa como um todo tem 24%. Percebendo que as posições de entrada alimentam os cargos mais altos, o MetrôRio decidiu que seu programa de Jovem Aprendiz se tornaria “exclusivamente feminino“. Atualmente, das cerca de 60 jovens aprendizes, praticamente todas são mulheres, com exceção de um rapaz de uma turma que está terminando. A expectativa é que esse movimento “injetar, digamos, diversidade de gênero nas camadas de entrada do nosso universo de manutenção, de modo que, com o tempo, isso organicamente se desdobre“.
O Papel da Liderança e a Necessidade de Acolhimento Cultural
Sabino enfatiza que a diversidade “não vai descer goela abaixo, não vai descer no fórceps“. É preciso que o tema “encontre acolhimento” na cultura da empresa. Para isso, a importância dos dados para “suportar entendimento” e, crucialmente, ter uma “liderança presente que compre o assunto“. A liderança é quem “orienta o negócio“, e se não trouxer a diversidade para o plano orientativo, o tema corre o risco de não ser considerado no dia a dia. Ele adverte que, embora seja uma responsabilidade social de todos, quando algo é de todos, existe “grande risco de ela não ser de ninguém“. Por isso, a liderança deve entender seu papel em estimular essa pauta.
Impressões do UITP Summit
Participando pela primeira vez do UITP Summit, Pedro Sabino descreveu o evento como “fantástico” e uma “grande oportunidade“. Para ele, o evento é “maravilhoso“, mas também um “desafio” devido à quantidade de atividades simultâneas – cerca de 10 palestras acontecendo a cada instante, além da feira. É “impossível absorver tudo“, mas ele viu coisas “superinteressantes“, incluindo automação e o futuro do transporte.
Sabino participou de uma visita técnica ao sistema de Hamburgo e de uma viagem em um “virtual autônomo“, o que o deixou fascinado e curioso sobre como essas inovações se tornarão práticas. Sua impressão é que o transporte mundial já evoluiu muito, mas que nos próximos cinco a oito anos, será “completamente diferente do que a gente tem hoje“. A feira apresenta “coisas que são tendência” e outras “muito na frente“, como o hyperloop, que “muda completamente a realidade” se um dia acontecer. “É muito legal estar em contato com essas coisas, ver o mundo como todo acontecendo aqui perto da gente“, concluiu Sabino.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes
Renata Verissimo,