Publicado em: 25 de julho de 2025
Na semana do Dia do Motorista, profissionais relatam os desafios da função e a importância do cuidado com quem depende do transporte público diariamente
YURI SENA
Responsáveis por transportar mais de 80 mil passageiros diariamente em Sorocaba (SP), os motoristas do sistema BRT são peças-chave na mobilidade urbana da cidade.
Com 118 veículos circulando em 24 linhas, esses profissionais atuam em uma operação que exige preparo técnico e equilíbrio emocional.
Para assumir a função, os motoristas devem possuir Carteira Nacional de Habilitação nas categorias D ou E e passar por treinamentos específicos.
Entre os conteúdos exigidos estão direção defensiva e preventiva, legislação de trânsito, mecânica básica, telemetria, além de noções sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), código de ética e a legislação anticorrupção.
Apesar da formação técnica ser obrigatória, motoristas relatam que o dia a dia do transporte público vai além da condução do veículo. Lidar com o público, manter a calma em situações adversas e demonstrar empatia são atitudes fundamentais no cotidiano.
Na semana em que se celebra o Dia do Motorista, relatos de profissionais ajudam a ilustrar a importância e a complexidade da função.
Amauri Ramos, 59 anos, trabalha como motorista há 22 anos e conta que começou como cobrador.
“Hoje estou na direção, mas comecei na função de cobrador. Sou realizado na minha profissão e me sinto desafiado a cada jornada. Ter paciência, respeitar a todos e conduzir com responsabilidade são comportamentos fundamentais e que me trouxeram até aqui. A vida atrás do volante sempre ensina algo novo e eu carrego isso comigo. Somos como testemunhas e participantes do cotidiano de diferentes pessoas. Ao longo desses anos já foram muitas situações, de socorro aos passageiros, a celebrações e aconselhamentos. As vidas dos passageiros se entrelaçam com a nossa, é uma atmosfera única”.

Joelma Silva, 49 anos e motorista há 11 anos.
Joelma Silva, 49, também compartilha sua trajetória. Ex-cozinheira, ela decidiu trocar de profissão para aumentar a renda e cuidar dos quatro filhos.
“Antes de ser motorista, eu era cozinheira e tinha um salário muito baixo. Com quatro filhos para sustentar, eu precisava aumentar os meus ganhos. Meu ex-marido era motorista, eu andava de ônibus todos os dias e foi aí que pensei “Porque não ser motorista? ”. Imaginei que o salário seria melhor para que eu pudesse cuidar dos meus filhos e fui em busca desse objetivo. Sendo motorista me sinto feliz e realizada, porque foi a partir dessa profissão que pude realizar muitas coisas. Tudo aquilo que lutei está valendo a pena. Um dia fui surpreendida com o comentário de uma criança de uns 6 anos que me disse: “motorista quando eu crescer, quero ser igual a você”. Ouvir essas palavras me deixou muito orgulhosa e feliz por saber que de alguma maneira meu trabalho também é inspiração”.

Aline Garcia, 36 anos e motorista há mais de 10 anos.
Aline Garcia, 36, é formada em Química, mas escolheu seguir carreira no transporte por influência dos pais.
“Sou formada em química, mas a minha paixão sempre foi o transporte e por isso apostei na profissão. Amo dirigir e me sinto completa profissionalmente, para mim é um orgulho. Minha história no transporte começou com o exemplo dos meus pais. Eles trabalhavam com vans e eu os ajudava e também acompanhava em alguns trajetos. Nesta época, comecei a ter gosto por este universo. Já adulta, passei por algumas empresas e chegar ao BRT foi a realização de um sonho. Sou dedicada e mantenho o foco a cada viagem. Sempre encontramos o inusitado, mas com atenção, técnica e compromisso tudo dá certo. Uma das maiores lições que o transporte me ensinou foi ser mais humana e empática com o próximo. A convivência com os passageiros me mostrou a valorizar os detalhes da vida e como podemos fazer o dia do outro ser um pouco melhor. Viver a mobilidade urbana é gerar facilidade para as pessoas que se deslocam na cidade”.
Yuri Sena, para o Diário do Transporte