Publicado em: 14 de agosto de 2025
Empresa fornece infraestrutura, energia, armazenamento e suporte técnico, com destaque para projetos como o BRT de Goiânia e nova base de pós-venda em São Paulo
ALEXANDRE PELEGI
A Nansen consolidou-se como uma das principais fornecedoras de soluções para infraestrutura de recarga de ônibus elétricos no Brasil. Com atuação que vai além da venda de carregadores, a empresa assumiu o papel de integradora de todo o ecossistema da eletromobilidade, conectando operadores, montadoras, concessionárias de energia e bancos para viabilizar projetos em diferentes regiões do país. Entre as frentes de trabalho estão o fornecimento de energia com custo reduzido, implantação de sistemas de armazenamento (Battery Energy Storage System – BESS), pós-venda especializado e apoio técnico para municípios de todos os portes. Durante o Seminário Nacional NTU 2025, em Brasília, o gerente de negócios João Tabelini conversou com o jornalista Alexandre Pelegi sobre a estratégia e os projetos em andamento.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Alexandre Pelegi: João, como estão os negócios hoje na área de carregadores, principalmente com esse crescimento do mercado de ônibus elétricos no Brasil?
João Tabelini: O mercado está bastante aquecido. A Nansen deixou de atuar apenas com o fornecimento de carregadores e infraestrutura para se tornar referência em soluções completas. Hoje apoiamos o cliente desde o planejamento, passando por modelos de contratação e financiamento — temos bancos parceiros — até a instalação e pós-venda. Além disso, buscamos parceiros de energia para reduzir o custo do kWh, que é um dos maiores impactos no OPEX do operador.
Alexandre Pelegi: E como funciona essa redução de custo de energia?
João Tabelini: Uma das formas mais eficientes é comprar energia no mercado livre. Dependendo da empresa contratada, a economia pode chegar a 40% ou 50%. É uma tendência natural: quando o operador começa a consumir muita energia, ele busca alternativas para reduzir esse custo.
Alexandre Pelegi: Você citou uma novidade: o sistema de armazenamento de energia, o BESS. Como ele funciona?
João Tabelini: O BESS é um sistema de baterias em contêineres que pode chegar a até 5 MWh de capacidade. Ele ajuda principalmente no período de transição entre a média e a alta tensão. Em vez de esperar dois ou três anos e investir até R$ 40 milhões para ampliar a potência contratada junto à concessionária, o operador pode usar o BESS como solução provisória — e depois como backup, funcionando como um no-break.
Alexandre Pelegi: Onde vocês já implantaram o BESS?
João Tabelini: Em São Paulo, fornecemos BESS móvel para duas garagens da Viação Gato Preto. Também estamos fornecendo para o BRT de Goiânia, que terá o maior terminal de recarga do Brasil: 23 carregadores de 240 kW, com potência instalada de 6 MVA.
Alexandre Pelegi: A Nansen fala muito em oferecer um “ecossistema completo”. Isso envolve também relacionamento com fabricantes?
João Tabelini: Sim. Mantemos boas relações com montadoras, concessionárias de energia, operadores, bancos e demais stakeholders. Nosso papel é ser um facilitador, integrando todos os envolvidos para que a solução seja viável e harmoniosa.
Alexandre Pelegi: Pelo que entendi o pós-venda é um diferencial para vocês, é isso?
João Tabelini: Sem dúvida. A operação é crítica, e os operadores buscam segurança. Temos SLAs de até 24 horas e contratos flexíveis. Em 2025 estamos abrindo uma base em São Paulo para pós-venda, com centro de reparos, estoque de peças, showroom e área de treinamentos.
Alexandre Pelegi: E quanto às cidades menores, que não têm a mesma estrutura das capitais?
João Tabelini: Estamos montando material de orientação com passo a passo para financiamentos e licitações, inclusive no BNDES. Caso o município precise de estudos mais profundos, temos parceiros que podem executar. Hoje estamos presentes em 17 cidades, incluindo sete das dez com mais ônibus elétricos no país.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes
ENTENDA A VANTAGEM DO MERCADO LIVRE DE ENERGIA
O mercado livre de energia é um ambiente de negociação no qual consumidores e fornecedores de eletricidade podem firmar contratos diretamente, definindo preços, prazos e outras condições de fornecimento, sem depender das tarifas fixadas pelo governo no mercado regulado (ou cativo).
No mercado regulado (cativo), o consumidor compra energia exclusivamente da distribuidora local, pagando tarifas definidas pela Aneel, sem poder escolher o fornecedor.
No mercado livre, o consumidor negocia diretamente com geradores, comercializadores ou até outros consumidores (em modelos específicos), estabelecendo:
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Preço da energia (normalmente com base em indicadores como PLD – Preço de Liquidação das Diferenças).
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Volume contratado (quantidade de energia por período).
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Prazo do contrato (meses ou anos).
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Fonte de geração (hidrelétrica, solar, eólica, biomassa, etc.).
A distribuidora continua responsável apenas pela rede e entrega física da energia, cobrando uma tarifa pelo uso do sistema.
2. Quem pode participar
Hoje, no Brasil, podem migrar para o mercado livre:
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Consumidores livres: com demanda contratada acima de 1.000 kW, podendo comprar de qualquer fonte.
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Consumidores especiais: com demanda entre 500 kW e 1.000 kW, mas que adquirem energia de fontes incentivadas (renováveis como solar, eólica, PCH).
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Geradores e comercializadores.
Há também discussões e cronogramas para permitir que consumidores residenciais e pequenos comércios acessem gradualmente o mercado livre, possivelmente a partir de 2026.
3. Principais vantagens
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Preço negociado: possibilidade de obter custos menores que no mercado regulado.
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Previsibilidade: contratos de longo prazo ajudam a proteger contra volatilidade tarifária.
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Sustentabilidade: escolha de energia 100% renovável.
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Flexibilidade: adequar volume e condições às necessidades da empresa.
4. Riscos e desafios
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Exposição ao mercado: se não houver contrato bem estruturado, o preço pode subir.
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Gestão ativa: exige acompanhamento de preços, consumo e prazos.
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Custos de migração: estudos, adequações técnicas e contratos podem ter custo inicial.
Aspecto | Mercado Regulado (Cativo) | Mercado Livre de Energia |
Fornecedor | Distribuidora local (único) | Livre escolha entre geradores e comercializadores |
Preço | Tarifa definida pela Aneel (bandeiras tarifárias aplicáveis) | Negociado entre as partes (fixo, indexado ou misto) |
Fonte de energia | Determinada pela distribuidora | Pode escolher renovável, convencional ou mix |
Prazo de contrato | Indefinido, enquanto mantiver o fornecimento | Definido no contrato (meses ou anos) |
Encargos e impostos | Todos incluídos na fatura | Encargos separados: energia + uso da rede + impostos |
Previsibilidade de custo | Baixa: tarifas e bandeiras mudam conforme a Aneel | Alta: contrato pode travar preço por anos |
Perfil de consumidor | Residências, comércio e pequenas empresas | Grandes consumidores (e, futuramente, residenciais) |
Gestão | Passiva: não há negociações | Ativa: precisa monitorar preços, consumo e prazos |
Exemplo prático
Suponha uma empresa com consumo de 1.000.000 kWh/ano.
Item |
Mercado Regulado |
Mercado Livre |
Tarifa média (energia + encargos) |
R$ 0,80/kWh |
R$ 0,65/kWh |
Custo anual |
R$ 800.000 |
R$ 650.000 |
Economia anual |
— |
R$ 150.000 |
Fonte | Mista, definida pela distribuidora | 100% energia solar (negociado) |
💡 Resumo:
O mercado livre tende a ser mais vantajoso para quem tem consumo alto e pode gerir ativamente contratos. Ele oferece preços potencialmente menores, previsibilidade e escolha da fonte, mas exige gestão e planejamento para evitar exposição a preços de curto prazo.