24.8 C
Rondonópolis
segunda-feira, 10 novembro - 08:35
- Publicidade -
Publicidade
HomeTransportesNão basta ser não poluente, precisa ser sustentável e só a indústria...

Não basta ser não poluente, precisa ser sustentável e só a indústria brasileira atende a isso


Opinião é da diretora-presidente das Eletra, Milena Romano, que ainda fala das perspectivas da empresa que vai participar das atividades da COP-30 Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025

ADAMO BAZANI

A eletrificação de frotas de ônibus parece ter virado um “mantra” entre gestores públicos quando se fala em reduções de emissões pelo transporte coletivo.

E, neste cenário se vê de tudo. Gestores públicos que planejam uma transição energética de maneira mais responsável, sem “queimar etapas”, pensando antes na infraetrutua e nas possibilidades de os ônibus elétricos conviverem com outras alternativas que também poluem menos, como a renovação por si só de uma parte da frota ainda com o diesel no padrão Euro 6, biometano, biogás, entre outras. Entretanto, há gestores que vão no modismo ou no “oba-oba” e simplesmente “enfiam na canetada” a obrigatoriedade de compras em massa de ônibus elétricos.

O que num primeiro momento pode até parecer bom para a eletrificação e para a indústria nacional, se for malconduzido, pode gerar precipitações, manchar a imagem dos ônibus elétricos e abrir margem para a concorrência aos produtos brasileiros por causa de preços mais competitivos.

O operador, muitas vezes obrigado a comprar o mais rapidamente e o gestor público lançando mão de licitações que têm preço como critério, pode ou não fazer o melhor negócio.

Em entrevista ao Diário do Transporte, a diretora-presidente da Eletra Industrial, a primeira empresa instalada no Brasil que há cerca de 30 anos já fornecia tecnologia para ônibus elétricos, Milena Braga Romano, diz que além de reduzir a poluição, o caminho para adoção de veículos deste tipo é pensar na sustentabilidade da eletrificação.

“Cresci no mundo dos transportes. Minha rotina era ver meus pais, tios e amigos levantando bem cedinho e indo dormir tarde, resolvendo várias coisas ao mesmo tempo. O ambiente dos transportes foi me moldando, e foi nele que aprendi, na prática, o que é ser sustentável. É muito mais que ter um retorno, mais que “simplesmente” se manter. Mas é o pavimento para o caminho do crescimento, da mudança, da evolução. A Eletra nasceu neste berço, neste conceito. Há cerca de 30 anos, quando era loucura pensar em ônibus elétricos circulando no Brasil, minha mãe, Maria Beatriz Setti Braga, meu tio, João Antônio, e um time de sonhadores colocaram as mãos na massa e acreditaram. Buscaram sustentabilidade, sustentaram esse sonho” – disse. (À FRENTE DO TEXTO, VOCÊ PODE LER A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA)

Às vezes, num primeiro momento, o que pode parecer vantajoso nem sempre é o que em médio e longo prazo vai se manter.

A empresária diz que, em sua experiência vendo a família iniciar o negócio, aprendeu que o Brasil e a América Latina têm realidades diferentes, muitas vezes, num mesmo território e que não “bastam ônibus e soluções de prateleiras”. É necessário ter flexibilidade para personalizar configurações, tanto dos veículos como dos modelos de negócios.

“O Brasil, a América Latina como um todo, são territórios imensos. Com realidades diferentes, muitas vezes lado a lado, que necessitam de ações e soluções personalizadas. Realidades operacionais, econômicas, sociais e climáticas. Não adianta vender ônibus de prateleira. É necessário ter um padrão unificado e técnico de segurança, design e engenharia, mas conseguir a partir deste padrão, adaptar os modelos de ônibus de acordo com cada uma destas realidades.”

A empresária conta que a Eletra ampliou um atendimento que já realizava, de orientação a frotistas e gestores públicos justamente para definir quais os melhores modelos personalizados, não só de ônibus, mas de infraestrutura, garagens, financiamento e treinamento de equipes. Chamado de Eletra Consult, este atendimento se tornou uma consultoria e agora agregou novos serviços.

“Com a consultoria única na América Latina, o serviço Eletra Consult, orientamos e desenvolvemos com o operador de transportes, com o gestor público e ouvindo o passageiro de cada região, o modelo de negócio. Desde a implantação, obras civis necessárias nas garagens, a infraestrutura nas redes de distribuição, as melhores linhas de financiamento disponíveis para cada tipo de operação, o ônibus ideal que pode ter configurações personalizadas, o treinamento de mecânicos, eletricistas e motoristas, e até as opções disponíveis para uma segunda vida das baterias. Acreditem, essas baterias que hoje movimentam os ônibus, em 15 anos, 20 anos, vão alimentar casas, hospitais e comércios”.

Milena diz que a Eletra participa ativamente de atividades na Cop-30, que acontece em Belém até 21 de novembro. Além de realizar os transportes oficiais das delegações e equipes de apoio em ônibus elétricos, juntamente com a concessionária BRT Amazônia, a empresa vai exibir o “case” do sistema de corredores local onde todos os ônibus elétricos que operam os serviços regulares de transporte de passageiros são da marca, e, também vai integrar uma mesa de debates da CNT (Confederação Nacional do Transporte), no dia 13, que faz parte da programação oficial.

VEJA ABAIXO A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

Adamo Bazani: Nunca se falou tanto em ônibus elétricos no Brasil. Com a COP-30, os discursos aumentaram. Como você entende no contexto real da mobilidade brasileira a viabilidade e os entraves para a eletrificação dos ônibus? A Eletra se aproxima de 30 anos de atividade. O que deu para aprender neste tempo?

Milena Romano: Cresci no mundo dos transportes. Minha rotina era ver meus pais, tios e amigos levantando bem cedinho e indo dormir tarde, resolvendo várias coisas ao mesmo tempo. Desde as questões mais simples, como um detalhe caprichoso nos grandes e barulhentos ônibus dos anos 1980, 1990, até casos graves como mudanças de linhas forçadas e, infelizmente, até acidentes e disputas acirradas por mercados.

Vi de perto, desde criança, as dificuldades para que a mobilidade fosse um direito social garantido, mesmo antes de estes termos virarem discursos, lei e estarem na Constituição. Dificuldades enfrentadas pelas empresas de transportes, seus trabalhadores, pelos gestores públicos e, principalmente, pelos passageiros, os mais importantes neste elo.

O ambiente dos transportes foi me moldando, e foi nele que aprendi, na prática, o que é ser sustentável. É muito mais que ter um retorno, mais que “simplesmente” se manter. Mas é o pavimento para o caminho do crescimento, da mudança, da evolução.

Ser sustentável é, acima de tudo, continuar a caminhada.

A Eletra nasceu neste berço, neste conceito. Há cerca de 30 anos, quando era loucura pensar em ônibus elétricos circulando no Brasil, minha mãe, Maria Beatriz Setti Braga, meu tio, João Antônio, e um time de sonhadores colocaram as mãos na massa e acreditaram. Buscaram sustentabilidade, sustentaram esse sonho.

Dos fundos de uma garagem de ônibus acanhada, mas aconchegante, hoje a Eletra está no mais importante evento mundial sobre sustentabilidade, a Cop-30 –  Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025.

Adamo Bazani: Como será a participação da Eletra na Cop-30?

Milena Romano:  Estamos na mesa de debates sobre descarbonização dos transportes da CNT (Confederação nacional dos Transportes). Junto com a BRT-Amazônia, atuamos nos transportes oficiais da Cop-30, das delegações e equipes técnicas. E, com a coragem do Governo do Pará, contribuímos para a consolidação de um sonho de décadas, o BRT Metropolitano de Belém, que trouxe dignidade à população de diferentes cidades, oferendo um transporte mais confortável e com tarifas menores devido às integrações. Todos os 40 ônibus elétricos deste sistema são Eletra.

Adamo Bazani: Como o Brasil se posiciona no contexto da eletrificação dos sistemas de ônibus que parece ser irreversível em todo o mundo?

Milena Romano: O Brasil, apesar de todos os desafios, é hoje uma das maiores frotas de ônibus elétricos da América Latina e a Eletra é líder no fornecimento dessa frota.

Nesse ambiente do setor de transportes e vendo a Eletra crescer aprendi que a sustentabilidade depende de um ponto fundamental que só a indústria brasileira consegue atender: a flexibilidade.

O Brasil, a América Latina como um todo, são territórios imensos. Com realidades diferentes, muitas vezes lado a lado, que necessitam de ações e soluções personalizadas. Realidades operacionais, econômicas, sociais e climáticas. Não adianta vender ônibus de prateleira.

É necessário ter um padrão unificado e técnico de segurança, design e engenharia, mas conseguir a partir deste padrão, adaptar os modelos de ônibus de acordo com cada uma destas realidades.

A Eletra sabe que não basta oferecer soluções, é necessário desenvolver soluções.

Por isso, entendemos que a eletrificação dos transportes, que tanto beneficia uma cidade, vai muito além de vender ônibus.

Com a consultoria única na América Latina, o serviço Eletra Consult, orientamos e desenvolvemos com o operador de transportes, com o gestor público e ouvindo o passageiro de cada região, o modelo de negócio. Desde a implantação, obras civis necessárias nas garagens, a infraestrutura nas redes de distribuição, as melhores linhas de financiamento disponíveis para cada tipo de operação, o ônibus ideal que pode ter configurações personalizadas, o treinamento de mecânicos, eletricistas e motoristas, e até as opções disponíveis para uma segunda vida das baterias. Acreditem, essas baterias que hoje movimentam os ônibus, em 15 anos, 20 anos, vão alimentar casas, hospitais e comércios.

Adamo Bazani: Você falou sobre ônibus elétricos serem sustentáveis. Mas, na prática, o que diferencia entre optar por modelos brasileiros e de outros mercados para o País?

Sustentabilidade é atender a três pilares básicos. E a indústria instalada no Brasil é a única capaz de atender a estes pilares com benefícios para todos.

Estes pilares são:

O *Meio Ambiente:* Os ônibus elétricos não poluem em suas operações e em nações com fontes renováveis e limpas de geração de energia, deixam o ciclo ainda mais vantajoso.

O *Econômico*: Operar ônibus elétricos se mostrou vantajoso e vai ser ainda mais, com o barateamento dos veículos e baterias. A manutenção é mais simples, mais barata e gera menos impactos, com menos óleos, lubrificantes e fluidos que deixam de ser descartados no meio ambiente.

O *Social*: Nesse aspecto, a indústria brasileira ganha de lavada. Afinal, com a produção local de ônibus elétricos, geramos emprego aqui. Apoiamos o desenvolvimento social das famílias, que por sua vez, se tornam mais economicamente relevantes, consumindo mais, passeando mais. Geramos arrecadação para o poder público investir no Social…Sim, social não é custo, é investimento. E exportamos, gerando para o Brasil receitas globais, embarcando não apenas produtos brasileiros, mas produtos brasileiros de ponta e de alto valor agregado. Atendemos o que o passageiro precisa…um transporte mais confortável, eficiente e que não só desloque as pessoas, mas faça o cidadão se sentir bem, prestigiado. Onde há ônibus elétricos, sempre que podem, os passageiros fazem questão de deixar os modelos tradicionais a diesel passarem para esperarem os elétricos. Afinal, ônibus modernos, sem poluição, com quase nada de trepidação e barulho, não só conquistam demanda para os transportes, mas conquistam corações.

Tenho a plena certeza, por tudo vi, vivi, vejo e vivo … O ônibus elétrico vai além de não poluir.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes



Fonte

RELATED ARTICLES

Most Popular

Recent Comments