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Neil Redding, no Bus Summit da ClickBus, aponta o futuro do setor rodoviário


Neil Redding fez a palestra de abertura no Bus Summit, evento master do ano da ClickBus. Sua presença no evento importa, e muito…

Redding é fundador da consultoria The Near Future, atuando há mais de duas décadas na interseção entre tecnologia, estratégia e experiência humana. Ex-líder de inovação na Google Creative Lab e na Columbia University, ele se tornou um dos mais influentes pensadores globais sobre futuros aplicados, ajudando CEOs a transformar tendências emergentes em decisões práticas. Sua especialidade é justamente o “futuro próximo”: o espaço entre a ficção científica e a realidade operacional.

No Bus Summit da ClickBus — hoje um dos principais fóruns estratégicos do transporte rodoviário brasileiro — Redding ofereceu ao setor um mapa conceitual robusto sobre como navegar a era da inteligência artificial. E não como tecnologia, mas como nova espécie que passa a habitar o ecossistema empresarial, com impacto direto nos modelos de operação, nos relacionamentos com passageiros e na lógica organizacional das empresas.

Foi nesse contexto que Neil Redding subiu ao palco. Um dos nomes mais influentes da chamada “futures thinking”, que é em resumo a prática de pensar o futuro de maneira sistemática para agir melhor no presente, Redding é conhecido por traduzir tendências tecnológicas em estratégias concretas para executivos. Suas pesquisas orbitam um conceito simples e disruptivo: o futuro próximo – tudo aquilo que não é ficção científica, mas que também não está totalmente instalado. É um campo intermediário entre o possível e o prático, onde surgem as grandes oportunidades de transformação.

Em sua palestra no Bus Summit, Redding ofereceu um olhar profundo sobre a inteligência artificial não como ferramenta, mas como nova espécie participando do ecossistema empresarial. E, a partir dessa visão, convidou o mercado rodoviário a repensar sua relação com tecnologia, clientes e modelos de operação.

Do “mundo pegando fogo” à floresta que renasce: o ponto de partida

Redding abriu seu discurso falando do momento turbulento que vivemos: crises sanitárias, rupturas nas cadeias de suprimentos, volatilidade econômica, mudanças climáticas, aceleração tecnológica. Um mundo que parece, muitas vezes, “estar pegando fogo”.

Mas ele ressignifica essa imagem com uma metáfora poderosa: a floresta queimada que dá origem a uma explosão de morels – cogumelos raros que surgem em abundância após incêndios. Apesar da destruição, surge um ecossistema renovado, nutrido, mais fértil.

A mensagem para o setor rodoviário é clara: crises e rupturas não são apenas ameaças – são gatilhos para reorganização, inovação e novas possibilidades de prosperidade.

A tese central: as empresas precisam deixar de ser máquinas e se tornar ecossistemas

Para Redding, grande parte das empresas ainda opera como máquinas: rígidas, hierarquizadas, desenhadas para previsibilidade. Esse modelo está falhando porque o mundo já não funciona assim.

A alternativa é a lógica ecológica: sistemas abertos, interdependentes, adaptativos.

O setor rodoviário brasileiro, historicamente acostumado a operar com planejamento rígido, tabelas fixas, ciclos longos e regras pesadas, entra agora em um cenário onde:

•demanda oscila rapidamente,

•expectativas dos passageiros mudam semanalmente,

•preços e custos variam com mais volatilidade,

•plataformas digitais adquirem papel estruturante,

•os dados passam a ser ativo vital,

•e a IA transforma a forma de organizar a produção do serviço.

O argumento de Redding é que somente empresas que se comportarem como ecossistemas – e não como máquinas – vão prosperar nesse novo ambiente.

A inteligência artificial como “nova espécie” no ecossistema do transporte

O ponto mais disruptivo da palestra foi quando Redding descreveu a IA como uma nova espécie convivendo com humanos e empresas. Não é metáfora gratuita, mas uma mudança de modelo mental.

Segundo ele, modelos avançados de IA:

•percebem contexto,

•interpretam linguagem natural,

•tomam decisões,

•aprendem continuamente,

•escalam sem esforço,

•e começam a participar ativamente de fluxos de trabalho complexos.

Ou seja, não são ferramentas passivas – são participantes no ecossistema.

Redding aponta três caminhos possíveis quando uma nova espécie chega:

•Invasão (substituição, ruptura, desequilíbrio),

•Parasitismo (extração sem retorno),

•Simbiose (cooperação que beneficia todos os lados).

A aposta dele é clara: a IA pode – e deve – ser simbionte do setor rodoviário, agregando valor a empresas, passageiros e operadores.

Os cinco estágios da evolução agentiva: um guia para o transporte

Redding sintetiza a evolução da IA em cinco estágios, todos já visíveis no mercado:

1.Instigar (prompt) – o modelo espera comandos.

2.Participar – a IA co-cria, interpreta, sugere, melhora nossas ideias.

3.Delegar – nasce a era agentiva, em que entregamos tarefas a agentes autônomos.

4.Iniciar – a IA age sozinha a partir de contexto, dados e padrões.

5.Simbiose – humanos + IA passam a operar como um sistema vivo, adaptativo.

O setor rodoviário, segundo Redding, já está entrando nos estágios 3 e 4:

•atendimento automatizado de 1ª camada,

•precificação dinâmica,

•orquestração de oferta e demanda,

•operações integradas em tempo real,

•agentes no ERP corrigindo falhas antes que se tornem problemas.

E, no contexto da ClickBus, isso é ainda mais evidente: a plataforma se torna um organizador inteligente do ecossistema, coordenando dados, roteiros, preços, previsibilidade e experiência.

Delegar inteligência: o coração da próxima revolução do transporte

Um dos insights mais fortes da palestra foi a ideia de que os líderes do setor, em poucos meses, passarão a “gerenciar equipes híbridas” compostas por:

•humanos,

•agentes operacionais de IA,

•agentes analíticos,

•agentes de orquestração.

Nesse ponto, Neil foi direto: “Vocês terão funcionários de IA.”

Delegar tarefas como:

•atendimento ao passageiro,

•reprogramação de viagens,

•detecção de anomalias,

•logística de manutenção,

•predição de demanda,

•análise jurídica ou regulatória,

•gestão de documentos,

•e até decisões táticas de operação, será não apenas normal – mas necessário.

O transporte rodoviário, pela sua natureza distribuída e dependente de previsibilidade, será um dos setores mais rapidamente beneficiados.

TOTVS, ClickBus e a chegada dos negócios auto-evolutivos

Ao discutir simbiose, Redding citou movimentos concretos no Brasil:

•A TOTVS incorporando agentes inteligentes ao ERP, capazes de perceber e corrigir desequilíbrios antes que impactem a operação.

•A ClickBus evoluindo para orquestradora do ecossistema rodoviário, integrando dados de operadores, antecipando padrões de demanda e sugerindo ofertas ideais ao passageiro.

Para o palestrante, esses movimentos são sinais de que caminhamos para negócios auto-evolutivos: organismos capazes de aprender, ajustar, corrigir e evoluir continuamente.

Empresas que operam dessa forma se tornam:

•mais resilientes,

•mais rápidas,

•mais eficientes,

•mais alinhadas com os passageiros,

•e mais preparadas para turbulências.

A essência da mensagem de Redding

No fim, a palestra poderia ser resumida em três ideias centrais:

1.O mundo mudou – e está mudando rápido demais para modelos corporativos tradicionais. Empresas-máquina não sobrevivem a ambientes caóticos.

2.A IA não é ferramenta: é participante. Trata-la como “software” é perder seu potencial transformador.

3.O transporte brasileiro tem a oportunidade histórica de se tornar um ecossistema simbiótico. Capaz de antecipar necessidades, reagir em tempo real e evoluir continuamente.

O convite de Redding ao setor rodoviário foi simples e profundo:

“Se participarmos ativamente, a IA será nosso fogo regenerador, não destrutivo. A floresta só renasce quando aceita sua própria transformação.

O Bus Summit terminou com a sensação clara de que o transporte rodoviário brasileiro está entrando em uma nova era – uma era em que tecnologia, estratégia e ecossistema caminham juntos. E que, para prosperar, precisamos mais do que ferramentas:

precisamos de novas espécies colaborando conosco.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes



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