Publicado em: 28 de maio de 2025
ALEXANDRE PELEGI
O Diário do Transporte esteve presente na noite desta terça-feira, 27 de maio de 2025, em Brasília para o evento que marcou a apresentação dos novos conselhos e diretoria da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), e onde foram delineadas as prioridades e a visão estratégica para o futuro do transporte coletivo urbano no Brasil. O evento reuniu diversas autoridades do Executivo e Legislativo, parlamentares, representantes do setor e empresários, como o governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha, e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota.
Francisco Christovam, Diretor Executivo da NTU, deu início aos discursos destacando a história de sucesso e as realizações importantes da entidade ao longo de quase 40 anos, citando marcos como a criação do Vale Transporte, a Lei das Concessões, o Novo Código de Trânsito Brasileiro e a Lei Nacional de Mobilidade Urbana. Ele enfatizou que, diante da atuação presente e das intenções para o futuro, a NTU está passando por uma revisão e modernização de seu propósito, visão e missão. O novo propósito central é “conectar o setor de transporte público coletivo com toda a sociedade, promovendo seu fortalecimento como eixo fundamental da mobilidade urbana sustentável e da inclusão social no Brasil”. A missão renovada inclui não apenas a representação das empresas operadoras, mas a “liderança do setor na direção de um transporte coletivo como pilar essencial da mobilidade para as nossas cidades“. Christovam salientou a importância de a entidade ter visibilidade, representatividade e responsabilidade e ser vista como um “serviço público essencial e estratégico, conforme estabelecido na nossa Constituição Federal“. Ele listou grandes “desafios a ser enfrentados e grandes batalhas a serem vencidas“, como o acompanhamento da regulamentação da reforma tributária, a criação do novo marco regulatório, a nova lei de concessões e a criação de um sistema único de mobilidade. Para alcançar os objetivos, é fundamental “ter condições financeiras e operacionais asseguradas para prestarmos um serviço de qualidade à população“.

Sandro Mabel, prefeito de Goiânia, ao lado de Hugo Mota, presidente da Câmara dos Deputados
O Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Mota, presente no evento, reconheceu o setor de transportes urbanos como “importante para o nosso país“. Ele afirmou que o debate sobre o transporte coletivo “faz parte da vida de milhões de brasileiros” e que a Câmara tem mantido um “diálogo sempre aberto” com setores importantes. Mota citou desafios como a “pauta da gratuidade” e o “custo para equilibrar o subsídio e aquilo que deve ser cobrado do passageiro“. Ele garantiu que a Câmara dos Deputados estará “de portas abertas para receber a associação e juntos construirmos aquilo que é importante para o Brasil“.
Edmundo Pinheiro e os três pilares
Edmundo Pinheiro, presidente do Conselho Diretor da NTU, que tomou posse na ocasião, iniciou seu discurso reafirmando a essencialidade do transporte coletivo, declarando que “não é um serviço acessório“, mas sim a “espinha dorsal das cidades que crescem e se adensam a cada dia“. Ele o definiu como o “único modo de garantir em larga escala o acesso ao trabalho, à educação, à saúde, à convivência, à própria vida urbana”, sendo, portanto, uma “necessidade estratégica“. Pinheiro lamentou que, mesmo sendo essencial e um direito social pela Constituição, o setor muitas vezes não é “tratado como prioridade“. Ele convocou a todos a fazerem parte do sistema conscientemente, pois “o transporte público não é responsabilidade de um, é um compromisso de todos“. Sua gestão, segundo ele, será guiada por três pilares:
1 – Transporte público moderno, eficiente e de qualidade: A missão clara é “tornar o transporte público mais atraente, competitivo e capaz de enfrentar os desafios das cidades do século XXI“. Isso exige “modernização constante… qualidade… e… salto real de eficiência“. Modernizar envolve “renovar a frota“, incorporar “tecnologias limpas, como os motores padrão Euro 6” e avançar com a “eletromobilidade“. A eficiência depende de “investimentos públicos em infraestrutura“, como BRTs, corredores preferenciais e melhoria de terminais e paradas. O objetivo é melhorar a “experiência do passageiro” com “conforto, segurança, confiabilidade e tarifa justa” para “recuperar o passageiro” perdido para outros modos. Exemplos de sucesso citados foram Brasília, que recuperou a demanda pré-pandemia com política de subsídios e frota nova, e Goiânia.
2 – Fortalecer as empresas operadoras: Pinheiro foi enfático: “Não há transporte público forte com operadores fragilizados” e “não há qualidade sem sustentabilidade econômica“. Ele defendeu a necessidade de “contratos equilibrados, segurança jurídica, previsibilidade” e “reconhecimento da importância do setor privado“. A relação entre poder público e empresas deve ser uma “parceria estratégica“, com “tarifas de remuneração tecnicamente adequadas“, “clara divisão de riscos” e “subsídios tarifários transparentes e com fontes orçamentárias previsíveis“. Em contrapartida, o setor privado deve investir em modernização, tecnologia e inovação. A entidade busca a recuperação integral da demanda e defende contratos que separem tarifa pública e tarifa técnica, além de políticas que desonerem o impacto das gratuidades, que representam 22% do custo médio.
3 – Promover uma entidade viva, inovadora e integradora: A NTU deve ser uma “liderança que dialoga com a sociedade, com o poder público e com o futuro“, sendo a “voz técnica autorizada do setor” e uma “instituição comprometida com o interesse público“. Sua função é “servir à mobilidade, servir às cidades, servir ao coletivo“. A liderança da NTU se baseará no “diálogo, na construção coletiva e na visão sistêmica“.
Goiânia como um dos exemplos
Sandro Mabel, Prefeito de Goiânia e Presidente da Comissão de Mobilidade da Frente Nacionak de Prefeitos (FNP), compartilhou a experiência de transformação no transporte coletivo da capital goiana. Mabel relatou ter conversado com Edmundo Pinheiro e a equipe da NTU antes de ganhar a eleição, planejando como transformariam o transporte coletivo em Goiânia caso vencesse. Após a vitória Mabel contou que o trabalho em Goiânia envolveu uma parceria entre o consórcio de transportadores, o governo estadual e os municípios. Essa colaboração possibilitou a “troca de toda a frota” por ônibus novos, muitos com ar-condicionado, a revitalização de terminais e a melhoria de 7 mil pontos de ônibus.
No entanto, o grande desafio era fazer o transporte andar, ter velocidade. Mabel citou que o BRT andava na mesma velocidade de um ônibus normal, cerca de 14 km/h, parando em muitos cruzamentos devido aos semáforos desincronizados. A solução encontrada foi a “metronização do transporte coletivo“. Este conceito utiliza “inteligência artificial, com muita tecnologia” para dar prioridade aos ônibus nos semáforos. O prefeito explicou que estão planejando modificar 35 corredores de ônibus e já concluíram a sincronização de dois. Ele destacou que, em um trecho de três quilômetros com nove semáforos onde os ônibus antes paravam em pelo menos quatro ou cinco, agora param em menos de um, às vezes nenhum.
O resultado prático da “metronização” já demonstrou um aumento significativo na velocidade média dos ônibus em trechos sincronizados, passando de 14-15 km/h para 21-22 km/h. Isso representa “mais de 30% de velocidade a mais“. O objetivo é melhorar a performance, o tempo de resposta e, principalmente, a experiência do passageiro, para que ele tenha “prazer de andar num ônibus novo, com ar-condicionado, com uma velocidade grande“. A meta é “recuperar uma boa parte dos passageiros para andar no transporte coletivo” e incentivar as pessoas a deixarem os carros em casa.
Mabel ressaltou sua crença de que “quem entende de transporte é o operador do transporte coletivo“, informando que em Goiânia, a empresa de transporte coletivo é quem controla os semáforos para garantir a prioridade dos ônibus. Ele convidou os presentes a conhecerem Goiânia e expressou grande entusiasmo com o projeto, acreditando que a cidade será um exemplo.
Mensagem final
A mensagem final ressoou em todos os discursos: a transformação do transporte coletivo urbano é uma “construção coletiva” que exige a colaboração do poder público, operadores, indústria e sociedade. Edmundo Pinheiro concluiu que “nada será resolvido isoladamente“, pois “nenhuma parte, por mais eficiente que seja, resolve um sistema inteiro“. A crença fundamental compartilhada reside no slogan que todos repetiram em suas manifestações: “O Brasil é coletivo“.
Pelas falas de Edmundo Pinheiro e Francisco Christovam pode-se concluir que a nova gestão da NTU assume o compromisso de liderar esse processo, buscando modernização, sustentabilidade econômica e, acima de tudo, o fortalecimento do transporte coletivo como pilar essencial para cidades mais humanas, justas e sustentáveis.
A entidade lançou um alerta: cidades brasileiras podem colapsar se o transporte individual continuar avançando e ultrapassar 50% dos deslocamentos motorizados. É preciso promover uma transição modal que reposicione o coletivo como eixo central do planejamento urbano.

Evento teve presença marcante dos principais representantes do setor de transporte
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes