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o Paradiso G4 – 1400, o ônibus que colocou o Brasil na rota dos High Deck (HD)


O resistente ao tempo, em Santo Andrpe (SP)

Veículo, dos anos 1980, está em Santo André (SP). Modelo foi um divisor de águas no transporte rodoviário latino-americano

ADAMO BAZANI

Colaborou Vinícius de Oliveira

Trafegando por uma das ruas da região do Jardim Bom Pastor, bairro tradicional de Santo André, no ABC Paulista, este repórter, um verdadeiro apaixonado pela história dos transportes (se pudesse, só escreveria sobre isso), encontra uma verdadeira relíquia.

Não só pela idade, mas pelo significado para os transportes rodoviários.

Trata-se de um Marcopolo Paradiso G4 (Geração 4) 1400. A unidade que, considerando a idade, parecia estar com uma conservação aceitável, foi encarroçada sobre um chassi Scania K112TL.

Claro que o encontro casual, nada programado, foi suficiente para relembrar empresas que com suas mais diferentes pinturas desfilam com o harmonioso, clássico, luxuoso e imponente modelo pelos terminais rodoviários do País, despertando a paixão de quem ama a história dos transportes. Mas também aguçou a curiosidade do profissional jornalista, que foi pesquisar em fontes oficiais, como os acervos históricos da própria Marcopolo, e outras confiáveis, a história do modelo.

Foi possível compreender que o veículo não se trata apenas de um modelo de cerca de 40 anos de idade que resiste ao tempo, o que por si só já seria suficiente para trata-lo como relíquia.

Mas a importância histórica vai além.

O Marcopolo Paradiso G4 (Geração 4) 1400 é um divisor de águas.

O modelo é considerado o ônibus que colocou o Brasil e os transportes rodoviários como um todo da América Latina na rota do conceito HD – High-Deck (piso alto) pelo qual, o passageiro ficava num nível bem acima do posto do motorista, proporcionado uma visibilidade privilegiada para quem não apenas curte viajar, mas apreciar as belezas e até mesmo os contrates de longos trajetos, que às vezes cruzam estados e, por que não dizer, nações.

Outra vantagem: o posicionamento do assoalho dos passageiros, permitia bagageiros bem mais amplos, com uma capacidade maior, indicado para turismo e longas viagens, essenciais numa época pela qual, as pessoas cruzam o País em busca de uma vida melhor.

Apresentado em 1982 a parte do mercado rodoviário, lançado oficialmente em 1983 e, em 1984, tendo as primeiras unidades entregues, o Marcopolo Paradiso G4 1400 parecia gigante perto dos outros ônibus, com seus 3,6 m a 3,7 m de altura, dependendo da configuração.

O lançamento do produto surge em meio à concorrência acirrada na época entre a Marcopolo e a Nielson (depois chamada de Busscar), que estava dominando com seu Diplomata, o 2.60 Super e o 350, que tinham, habitualmente, entre 3,45 e 3,53 m de altura.

Somente um ano depois a Nielson lançaria seu gigante, o Diplomata 380, de 3,8 metros de altura.

Hoje os “panorâmicos”, HDs ou LDs (Low Drivers), no Brasil produzidos pela Marcopolo, Busscar e Comil, possuem cerca de 4 metros de altura e comprimento entre 14m e 15m.

Na época, nos anos 1980, a legislação brasileira só permitia ônibus rodoviários de até 13,2 metros.

Apesar de existir ainda concorrência, pelo menos até agora, há mais de uma década, desde a crise da Busscar, que culminou na falência em 27 de setembro de 2012, não é tão mais acirrada, com a Marcopolo nadando de braçada e, após mais de 10 anos, a Comil se livrando do risco da falência com a conclusão do plano de recuperação judicial apenas em setembro de 2025.

Desde 2017, a Busscar está sob a administração do grupo que controla a Caio, fabricante de ônibus urbanos, liderada pelas famílias Ruas e Cunha, e ganha gradativamente volume. A Comil agora respira, mas quase agonizou, principalmente pelo fracasso da inauguração e depois fechamento que foi a planta de urbanos em Lorena (SP).

A Marcopolo lidera com folga no segmento de rodoviários, com um “abismo” entre ela e as concorrentes.

Toda essa briga nos anos 1980 para ver quem oferecia ao passageiro modelos mais altos, pavimentou a estrada para a consolidação dos chamados DD (Double Decks), ônibus de dois andares, hoje queridinhos dos passageiros que exigem os gigantes de 4,2 a 4,3 metros de altura (medida aproximada) até em rotas curtas.

O Paradiso G4-1400 não era só alto. Era luxuoso e requintado, oferecendo itens ainda não muito comuns em sua época, como ar-condicionado, poltronas leito, monitores de TV, sanitários com recirculação de ar, cafeteira, luzes direcionais reguláveis nas poltronas, som ambiente, frigobar.

Entre as primeiras empresas que adquiriam o modelo estão Eucatur (Empresa União Cascavel de Transportes e Turismo) e Viação Garcia, de Londrina (PR), com unidades sobre chassis Volvo.

No caso da Eucatur, contam as memórias registradas por funcionários que primeira viagem desse veículo teve como passageiro o presidente da República, na época, João Baptista Figueiredo. A primeira linha do modelo era Cascavel (PR) x Porto Velho (RO).

A compra do modelo foi uma escolha acertada pelo fundador da empresa, Assis Gurgacz.

O modelo também rodou no que foi por muito tempo a linha de ônibus mais longa do mundo, ligando Porto Alegre (RS) à Venezuela, um percurso de mais de 4.000 km.

As empresas Pluma, do Rio Grande do Sul, e Andorinha, de São Paulo, foram outras entre as pioneiras que investiram no modelo e tiveram retorno.

A produção foi até 1992, quando se consolidava na Marcopolo a G5 – Geração V, talvez uma das mais bem sucedidas da fabricante gaúcha.

O caminho, porém, estava aberto…os ônibus rodoviários no Brasil não seriam mais os mesmos.

Ufa, viu como “segundos” de encontro com um vitorioso do tempo rendeu história.

Valeu a pena a pesquisa e encontrar a relíquia casualmente no caminho.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes



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