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Ônibus elétricos já respondem por quase 90% da frota de urbanos na China e demanda se iguala com trilhos. No Brasil, é menos de 1% – O que difere?


Enquanto no Brasil, uma fabricante nacional, a Eletra, de São Bernardo do Campo (SP), por décadas só se manteve porque o grupo empresarial acreditou no negócio e investiu os recursos que possui como operador de transportes, sem nenhuma linha der financiamento até ao menos cinco anos atrás; na China, em seu plano estratégico, o Governo reuniu fabricantes, universidades e operadores e criou condições favoráveis com ingestão de recursos diretos

Coletivos cobrem 1,75 milhão de quilômetros de vias e trilhos se estendem por 11 mil quilômetros na China

ADAMO BAZANI

Os ônibus urbanos elétricos na China já respondem por 82,7% de toda a frota do País de coletivos locais e metropolitanos. Isso significa em torno de 544 mil unidades em circulação.

O dado foi divulgado nesta terça-feira, 16 de setembro de 2025, pelo vice-ministro do Transporte, Li Yang, de acordo com a agência estatal Xinhua. A declaração foi dada durante um evento promocional de transporte verde realizado em Jinan, capital da Província de Shandong, no qual Li Yang revelou que a quantidade de pessoas atendidas por ônibus urbanos na China se igualou com a do transporte metroferroviário (veja mais abaixo os números).

Para se ter uma ideia, o número de coletivos eletrificados na China é 500 vezes maior que o total de ônibus elétricos em circulação no Brasil que, segundo o E-Bus Radar, soma 1143 unidades, das quais, 327 trólebus (conectados à rede de fiação aérea). Esse volume significa menos de 1% da frota total de 118 mil ônibus no Brasil.

O E-Bus Radar é um monitoramento da frota de ônibus elétricos, de diversas configurações (entre híbridos, somente a bateria e trólebus) mantido por órgãos como C-40 – Cidades Inteligentes, Conselho Internacional de Transporte Limpo – ICCT (de International Council on Clean Transportation), por meio da Aliança ZEBRA (Zero Emission Bus Rapid-deployment Accelerator – Acelerador de Implantação Rápida de Ônibus com Emissão Zero).

Ainda de acordo com o E-Bus Radar, em toda a América Latina, até 16 de setembro de 2025, rodam 7005 ônibus elétricos.

Como mostrou o Diário do Transporte, no último sábado, 13 de setembro de 2025, a maior frota latino-americana de ônibus elétricos está no Chile, com mais de 3,1 mil unidades.

Relembre:

No Brasil, dos 1143 ônibus elétricos, cerca de 750, ou quase 70%, estão na cidade de São Paulo, considerando os 201 trólebus municipais, o que mostra a concentração ainda da eletromobilidade no País.

A frota de ônibus elétricos na capital paulista só não é maior porque a cidade esbarra em limitações geradas pela falta de infraestrutura nas redes de distribuição, a maior parte de baixa tensão. O motivo é apontado pela prefeitura como a principal explicação do porquê de a meta de 2,6 mil ônibus elétricos, anunciada para dezembro de 2024, não fosse alcançada. Como desde 17 de outubro de 2022, as viações da capital paulista não podem mais comprar modelos a diesel, o entrave tem impedido a renovação da frota e a gerenciadora da prefeitura, SPTrans (são Paulo Transporte), ampliou a idade máxima permitida dos coletivos em circulação de 10 anos para 13 anos.

Mas o que difere, além dos números em si, as realidades do Brasil e da China?

Entre alguns dos pontos debatidos estão:

– Tempo de eletrificação: Enquanto Brasil ainda brigava a cada mudança de padrão tecnológico para reduzir a poluição pelos ônibus a diesel nos últimos 20 anos (Euro 3 para Euro 5 e Euro 5 para Euro 6); neste mesmo período, a China traçava um plano estratégico de eletrificação do transporte coletivo sobre pneus.

– Papel do Estado: Apesar de o discurso neoliberal pregar a redução do Estado, desde uma economia “socialista” chinesa até uma norte-americana ou em parte da Europa extremamente liberalista, quando se fala de altos investimentos em mudanças de tecnologia de transportes, sempre o Governo está na frente. Enquanto no Brasil, uma fabricante nacional, a Eletra, de São Bernardo do Campo (SP), por décadas só se manteve porque o grupo empresarial acreditou no negócio e investiu os recursos que possui como operador de transportes, sem nenhuma linha der financiamento até ao menos cinco anos atrás; na China, em seu plano estratégico, o Governo reuniu fabricantes, universidades e operadores e criou condições favoráveis com ingestão de recursos diretos. Boa parte da frota de ônibus da China é de operação pública. No Brasil, a maioria é privada. Em São Paulo, por exemplo, a antiga empresa pública da cidade, CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), que deixou de ser operadora entre 1993 e 1994 e foi sucedida pela SPTrans como gestora em 1995, sempre foi indutora de tecnologias de redução de poluição pelos ônibus, com a criação de novas gerações de trólebus, modelos biometano (combustível obtido pela decomposição de resíduos) e GNV (Gás Natural Veicular), entre outros. Não significa, entretanto, que no contexto atual, haja necessidade de novas empresas públicas.

– Diversificação de Fabricantes e Internacionalização: O plano estratégico do governo chinês resultou numa diversificação de fabricantes e fortaleceu as marcas locais que, além de se tornarem as maiores exportadoras de ônibus elétricos do mundo, transformaram-se em multinacionais com plantas em diversos países, inclusive no Brasil, como a BYD, que se instalou em Campinas (SP) no ano de 2015. Higer, Ankai e Foton também miram plantas no Brasil, sendo que a Higer está mais avançada nestes planos.

– Infraestrutura, Baterias e Equipamentos: Ainda dentro do seu plano estratégico, nos últimos 20 anos, o governo chinês decidiu não só preparar o País quanto à fabricação e operação nas ruas de ônibus elétricos, mas pensou em toda a cadeia, com o desenvolvimento de baterias cada vez mais modernas (mais leves, com maior autonomia e tempo de recarga menor), em carregadores rápidos (inclusive de oportunidade com recargas rápidas por indução em terminais e estações ao longo dos trajetos) e nas redes de distribuição. Enquanto isso, no Brasil, na maior e mais rica cidade do País, em São Paulo, comprar ônibus municipal 0 km a diesel é proibido desde 17 de outubro de 2022, mas as metas de frota limpa não foram alcançadas e a frota em circulação envelhece porque, diante da falta de infraestrutura principalmente na rede de distribuição, a maior parte de baixa tensão, se 50 ônibus elétricos a bateria ou mais carregarem ao mesmo tempo as baterias, pode faltar energia em bairros inteiros, “derrubando a luz” de casas, comércios e até hospitais.

– Energia Limpa de verdade: Apesar de as desvantagens de decisões políticas e de Estado (não de gestão de mandato) do Brasil em relação a China, por aqui há uma vantagem que não é bem explorada ainda. Por ser de hidrelétricas e abundante em chuvas (mesmo com períodos de estiagem), o Brasil possui uma geração de energia elétrica bem mais limpa e com custo menor que da China, que depende ainda de termelétricas, a carvão ou, pasmem, a diesel.

DEMANDA DE TRANSPORTES:

Apesar de a China ter uma rede metroferroviária famosa, os ônibus assumem também protagonismo e transportam a mesma quantidade de pessoas que os trilhos.

De acordo com o que revelou neste dia 16 de setembro de 2025, o vice-ministro do Transporte, Li Yang, durante o evento promocional de transporte verde realizado em Jinan, capital da Província de Shandong, 100 milhões de pessoas utilizam diariamente os sistemas metroferroviários, enquanto outros 100 milhões vão de ônibus urbanos e metropolitanos (termos como são empregados no Brasil). Além disso, 24 milhões de pessoas se deslocam de bicicletas.

Os ônibus cobrem 1,75 milhão de quilômetros de vias e trilhos se estendem por 11 mil quilômetros na China.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Electric buses already account for nearly 90% of China’s urban bus fleet, and demand is equal to that of rail. In Brazil, it’s less than 1% – What’s the difference?
Buses cover 1.75 million kilometers of roads, and rails extend for 11,000 kilometers in China.
ADAMO BAZANI

While in Brazil, a national manufacturer, Eletra, from São Bernardo do Campo (SP), for decades only remained in business because the business group believed in the business and invested the resources it has as a transport operator, without any line of financing until at least five years ago; in China, in its strategic plan, the Government brought together manufacturers, universities and operators and created favorable conditions with the intake of direct resources

Electric urban buses in China already account for 82.7% of the country’s entire local and metropolitan bus fleet. This means around 544,000 units in circulation.
The data was released this Tuesday, September 16, 2025, by Vice Minister of Transport Li Yang, according to the state-run Xinhua news agency. The statement was made during a green transportation promotional event held in Jinan, capital of Shandong Province, where Li Yang revealed that the number of passengers served by urban buses in China has equaled that of metro-rail transportation (see the figures below). To give you an idea, the number of electrified buses in China is 500 times greater than the total number of electric buses in circulation in Brazil, which, according to E-Bus Radar, totals 1,143 units, of which 327 are trolleybuses (connected to the overhead wiring network). This volume represents less than 1% of the total fleet of 118,000 buses in Brazil.
E-Bus Radar monitors the electric bus fleet, in various configurations (including hybrids, battery-only, and trolleybuses), maintained by organizations such as C-40 – Smart Cities, the International Council on Clean Transportation (ICCT), and the ZEBRA Alliance (Zero Emission Bus Rapid-deployment Accelerator).
Also according to E-Bus Radar, 7,005 electric buses will be in operation throughout Latin America by September 16, 2025. As reported by Diário do Transporte last Saturday, September 13, 2025, the largest Latin American fleet of electric buses is in Chile, with more than 3,100 units.
In Brazil, of the 1,143 electric buses, approximately 750, or almost 70%, are in the city of São Paulo, including the 201 municipal trolleybuses, demonstrating the continued concentration of electromobility in the country.
The electric bus fleet in São Paulo is only not larger because the city faces limitations caused by the lack of infrastructure in the distribution networks, most of which are low-voltage. The city government cites this as the main reason why the target of 2,600 electric buses, announced for December 2024, was not met. Since October 17, 2022, bus companies in the city of São Paulo can no longer purchase diesel models, this restriction has prevented fleet renewal, and the city’s management company, SPTrans (São Paulo Transport), increased the maximum age of buses in circulation from 10 to 13 years.
But what, besides the numbers themselves, differentiates the realities of Brazil and China?
Some of the points discussed include:
– Timing of electrification: While Brazil was still fighting with each technological change to reduce pollution from diesel buses over the past 20 years (from Euro 3 to Euro 5 and Euro 5 to Euro 6), during this same period, China was outlining a strategic plan to electrify tire-based public transportation.

– Role of the State: Despite neoliberal discourse advocating the reduction of the State, from a “socialist” Chinese economy to an extremely liberal North American one or in parts of Europe, when it comes to major investments in changes in transportation technology, the government always leads the way. While in Brazil, a national manufacturer, Eletra, based in São Bernardo do Campo (SP), for decades only survived because the business group believed in the business and invested its resources as a transportation operator, without any financing until at least five years ago; in China, in its strategic plan, the government brought together manufacturers, universities, and operators and created favorable conditions with the inflow of direct resources. Much of China’s bus fleet is publicly operated. In Brazil, the majority is private. In São Paulo, for example, the city’s former public company, CMTC (Municipal Public Transport Company), which ceased its role as operator between 1993 and 1994 and was succeeded by SPTrans as manager in 1995, has always been a driver of pollution-reducing technologies for buses, with the creation of new generations of trolleybuses, biomethane (fuel obtained from the decomposition of waste), and NGV (Vehicle Natural Gas) models, among others. This does not mean, however, that in the current context, there is a need for new public companies.
– Manufacturer Diversification and Internationalization: The Chinese government’s strategic plan resulted in a diversification of manufacturers and strengthened local brands, which, in addition to becoming the largest exporters,of electric buses in the world, have become multinationals with plants in several countries, including Brazil, such as BYD, which established itself in Campinas, São Paulo, in 2015. Higer, Ankai, and Foton are also targeting plants in Brazil, with Higer being further along in these plans.
– Infrastructure, Batteries, and Equipment: Also within its strategic plan, over the past 20 years, the Chinese government has decided not only to prepare the country for the manufacture and operation of electric buses, but has also considered the entire chain, with the development of increasingly modern batteries (lighter, with greater range and shorter recharge times), fast chargers (including opportunities for fast induction charging at terminals and stations along the routes), and distribution networks. Meanwhile, in Brazil, in São Paulo, the country’s largest and richest city, purchasing brand-new diesel municipal buses has been prohibited since October 17, 2022. However, clean fleet goals have not been met, and the fleet in circulation is aging. Due to the lack of infrastructure, especially in the distribution network, most of which is low-voltage, if 50 or more battery-electric buses charge their batteries simultaneously, it could cause power outages in entire neighborhoods, “knocking out the power” in homes, businesses, and even hospitals.
– Truly Clean Energy: Despite the disadvantages of Brazil’s political and state decisions (not government mandates) compared to China, there is an advantage here that has not yet been fully explored. Because of its hydroelectric power and abundant rainfall (even during dry periods), Brazil generates much cleaner and lower-cost electricity than China, which still relies on thermoelectric plants, whether coal-fired or, surprisingly, diesel.

TRANSPORTATION DEMAND:
Although China has a renowned metro-rail network, buses also play a leading role, transporting as many people as rail.
According to Vice Minister of Transportation Li Yang, who revealed on September 16, 2025, during a green transportation promotional event held in Jinan, the capital of Shandong Province, 100 million people use metro-rail systems daily, while another 100 million travel by urban and metropolitan buses (terms used in Brazil). Additionally, 24 million people commute by bicycle.
Buses cover 1.75 million kilometers of roads, and rail tracks extend 11,000 kilometers in China.
Adamo Bazani, journalist specializing in transportation



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