Publicado em: 4 de outubro de 2025

PNAD Contínua Turismo 2024 mostra que o transporte rodoviário mantém importância para os mais pobres, enquanto o avião dominou entre os outros modais, especialmente entre os estratos com maior poder aquisitivo
ALEXANDRE PELEGI
O Brasil registrou em 2024 um total de 20,6 milhões de viagens, número praticamente estável em relação ao ano anterior. Os dados são da PNAD Contínua: Turismo, divulgada pelo IBGE, e revelam mudanças importantes na forma como os brasileiros se deslocam em viagens com pernoite. O carro particular ou de empresa permaneceu como meio de transporte predominante, com 50,7% das viagens, mas o destaque ficou para o avanço do avião, que atingiu 14,7% do total e consolidou-se como o segundo modal mais utilizado. O ônibus de linha, tradicional competidor nesse espaço, caiu para 11,9%, ficando atrás da aviação no ranking nacional.
Avião ultrapassa ônibus no ranking de viagens
A trajetória recente mostra claramente essa inversão. Em 2020, o avião respondia por pouco mais de 10% das viagens, enquanto o ônibus mantinha participação superior a 12%. Quatro anos depois, a aviação avançou quase quatro pontos percentuais e o ônibus perdeu espaço relativo, embora tenha permanecido praticamente estável em termos absolutos. Em recortes mais específicos, a distância é ainda maior: nas viagens profissionais, o avião chegou a 28,8%, enquanto o ônibus de linha ficou em 10,4%. Mesmo nas viagens pessoais, onde historicamente o ônibus tinha peso relevante, a aviação alcançou 12,3% em 2024 e ultrapassou pela primeira vez a participação do rodoviário, que ficou em torno de 12%.


Estabilidade no total de viagens
Esse movimento não está relacionado a um aumento expressivo do total de deslocamentos, já que o volume de viagens permaneceu estável em relação a 2023. O que ocorreu foi uma mudança de perfil no acesso aos modais, determinada sobretudo pela renda. Entre famílias com rendimento per capita inferior a meio salário mínimo, o ônibus de linha representou 25,2% das viagens, consolidando-se como principal opção para os mais pobres. Entre os domicílios com rendimento superior a quatro salários mínimos, no entanto, 36,2% das viagens foram realizadas de avião, contra apenas 5,1% de ônibus de linha. Em outras palavras, o crescimento da aviação se deu majoritariamente pela retomada das famílias de maior poder aquisitivo, que voltaram a viajar mais de avião após a pandemia.
Desigualdade modal
A PNAD ainda chama atenção para algumas particularidades metodológicas. A pesquisa considera apenas viagens com pernoite realizadas nos 90 dias anteriores à entrevista, e o entrevistado deve indicar apenas o principal meio utilizado. Assim, deslocamentos mistos – como ônibus até o aeroporto e depois avião – acabam sendo atribuídos a apenas um modal. Além disso, os dados são baseados em autodeclaração, e não em registros administrativos de companhias aéreas ou de transporte rodoviário.
A leitura mais abrangente desses resultados é que o ônibus não perdeu importância no transporte turístico do país. Ele permanece como alternativa fundamental para grandes contingentes populacionais, especialmente nas faixas de menor renda e em viagens regionais ou de média distância. Porém, do ponto de vista da participação relativa no total das viagens, foi superado pelo avião, que avança graças ao consumo das classes mais ricas e à retomada do transporte aéreo no pós-pandemia. Esse contraste reforça uma desigualdade estrutural: enquanto os mais pobres dependem quase exclusivamente do ônibus, as camadas mais abastadas diversificam suas opções e ampliam o uso do transporte aéreo.
Conclusão
Em síntese, os dados do IBGE mostram que o transporte rodoviário segue essencial para a mobilidade da população de menor poder de compra, mas que o crescimento da aviação alterou o equilíbrio entre os modais, reduzindo a distância histórica entre eles e colocando o avião em posição de destaque no cenário nacional.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes


