Publicado em: 30 de julho de 2025
Entenda como a BYD avança no mercado de elétricos no Brasil. Com fabricação local, característica marcante do modelo de negócios da empresa é o controle total sobre sua cadeia de suprimentos
FÁTIMA MESQUITA, ESPECIAL PARA O DIÁRIO DO TRANSPORTE
A BYD nasceu como uma modesta fabricante de baterias em 1995 com base em Shenzhen na China. Trinta anos depois, a empresa é uma das maiores do mercado de veículos elétricos do mundo e os seus e-ônibus operam em mais de 70 países, praticamente dominando o setor. Confira aqui a anatomia desse sucesso.
As baterias
Uma característica marcante do modelo de negócios da BYD é a sua integração vertical. A empresa optou desde sempre por manter um controle total sobre a sua cadeia de suprimentos, assumindo assim a fabricação de todos os componentes essenciais de um veículo elétrico, como é o caso das baterias.
Nos ônibus da marca, a escolha recai sobre baterias de Ferro-Fosfato de Lítio (LFP) no lugar da versão de Níquel Manganês Cobalto (NMC). “As baterias LFPs são mais seguras e mais estáveis. Em termos de perda de eficiência em temperaturas extremas, as LFPs continuam na frente, com uma resistência maior que as baterias NMC por exemplo. Além disso, as LFPs têm uma vida útil mais longa. E tudo isso somado faz com que os nossos ônibus sejam campeões de autonomia, oferecendo um excelente custo-benefício para os operadores.”, explica Bruno Paiva, diretor de vendas da BYD Brasil
Outra característica da BYD é a sua adaptabilidade aos mais diversos mercados. Presente no Brasil desde 2014 a empresa desenvolveu chassis preparados para as condições do país e que são fabricados aqui mesmo, na fábrica em Campinas. Nos chassis de piso baixo, as baterias ficam no teto e na traseira, enquanto os modelos de piso alto trazem todas as baterias abaixo do piso.
O motor no cubo
A BYD adotou um sistema de motores no cubo das rodas traseiras que traz uma certa complexidade eletrônica e até um custo maior de produção, mas que, na prática colocou a companhia em uma posição confortável diante da concorrência. “Essa abordagem elimina componentes mecânicos tradicionais, como eixo de transmissão e diferenciais, reduzindo perdas de energia e melhorando a resposta dinâmica do veículo. Além disso, o ETC (Electronic Torque Control) garante uma distribuição inteligente do torque entre as rodas, e isto significa melhor tração, mais estabilidade, melhor dirigibilidade e, também, mais eficiência energética”, pontua Bruno Paiva.
A inovação mecânica desses motores fabricados pela própria BYD garantiu ainda uma otimização do espaço interno e reduziu o peso final do ônibus – e, quando o assunto é eficiência energética, um peso menor costuma se traduzir em menor consumo e maior autonomia. O Diretor de Vendas da companhia afirma que a BYD potencializa esses ganhos com o uso de materiais leves, suspensões reforçadas e o próprio controle eletrônico de torque (ETC).
O freio regenerativo
Nos veículos a diesel, a energia do movimento (cinética) das rodas é dissipada em forma de calor durante a frenagem. Já no sistema de freio regenerativo, essa mesma energia é recuperada e convertida em eletricidade, sendo imediatamente armazenada nas baterias.
No caso da BYD, o sistema inteligente de freio regenerativo potencializa ainda mais esse processo, maximizando a recuperação de energia e reduzindo o desgaste dos componentes mecânicos. Outro diferencial é a capacidade de ajuste automático da intensidade da regeneração conforme o estilo de condução dos motoristas. Essa tecnologia contribui para aumentar a autonomia do ônibus, garantindo mais economia e oferecendo maior conforto tanto para os passageiros quanto para os condutores.
A suspensão
O sistema pneumático dos ônibus urbanos da BYD disponíveis no Brasil utiliza quatro bolsões de ar – dois na dianteira e dois na traseira. Segundo Paiva, essa configuração “é ideal para distribuir a carga de maneira adequada e absorver muito bem os impactos. Os bolsões ajustam automaticamente a altura do ônibus conforme o peso transportado e permitem rebaixar a estrutura do veículo para facilitar a acessibilidade de passageiros.” E quando essa solução vem combinada com eixo independente na dianteira e eixo rígido na traseira, o resultado é mais conforto para os passageiros, redução do desgaste dos componentes e economia para o operador.
A grande variação de carga, característica do transporte urbano, e as condições das vias brasileiras também influenciaram na decisão de adotar uma suspensão pneumática convencional nos ônibus da BYD comercializados no Brasil, mesmo com a empresa já oferecendo, na China, modelos equipados com bolsões ativos. “Priorizamos um sistema robusto e de manutenção acessível, garantindo maior confiabilidade e menores custos operacionais” sentencia Paiva.
Brasilidade
A BYD já manufatura vários de seus produtos no Brasil e não cansa de reforçar que possui planos concretos para ampliar a nacionalização dos componentes de seus veículos. Os primeiros passos já foram dados: em 2020, a marca inaugurou uma unidade no Polo Industrial de Manaus (PIM) para a produção de baterias.
Além disso, estão sendo realizados estudos para a nacionalização de diversos componentes do chassi, incluindo sistemas de freio, suspensão, frame, sistema de ar e até alguns componentes de alta tensão. Bruno Paiva, Diretor de Vendas da BYD Brasil, conclui: “A cada dia, a BYD reafirma ainda mais o seu compromisso com a mobilidade sustentável e com o Brasil”.
Fátima Mesquita é jornalista e escritora, editora do ANTP Café e editora da Revista dos Transportes Públicos