Publicado em: 17 de agosto de 2025
Atividade fez parte da Jornada do Patrimônio em linha deste meio de transporte mais antiga do Brasil, mas que empresa pediu para acabar com as operações com trólebus
ADAMO BAZANI e YURI SENA
Uma das programações da Jornada do Patrimônio, que ocorreu na capital paulista neste final de semana, foi realizada no domingo, às 11 horas: um passeio pela linha mais antiga de trólebus do Brasil e, obviamente, da capital Paulista, que está em operação comercial desde 1949. Entretanto, começou a operar em testes dois anos antes, em 1947, sendo um dos marcos do início da Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), antiga operadora e gestora da prefeitura, substituída posteriormente pela São Paulo Transportes (SPTrans).
A linha é a 408A-10, Machado de Assis – Cardoso de Almeida. O evento contou com guias turísticos e muito bate-papo a respeito da história da cidade, dos transportes e também sobre o futuro da mobilidade na maior metrópole da América Latina.
Um dos temas que não pôde faltar, além da história da cidade e da confraternização, foi o risco de desativação completa e definitiva da rede de trólebus, mesmo que de forma gradativa. Entidades ligadas à mobilidade, ao meio ambiente e à preservação da memória urbana aproveitaram a oportunidade para destacar as vantagens do sistema.
O presidente do movimento Respira São Paulo, Jorge Françozo de Moraes, projetista de redes elétricas de mobilidade de média e grande capacidade, esteve no evento e chegou a usar um megafone para que os participantes ouvissem melhor as falas da entidade.
Segundo Françozo, não se deve desestruturar uma oferta de transporte limpo já existente, enquanto a cidade luta contra a poluição atmosférica e sonora. Ele lembrou que, como já mostrou o Diário do Transporte, há falta de infraestrutura para adaptação das redes de energia que seriam necessárias a fim de que os ônibus elétricos movidos somente a bateria não provoquem apagões nos bairros durante os carregamentos. As metas de renovação da frota também não foram cumpridas. Para se ter uma ideia, em agosto de 2025 São Paulo conta com 865 ônibus movidos à eletricidade, dos quais 201 são trólebus — que já operam há décadas. A meta para dezembro de 2024 era de 2.600 veículos elétricos.
A importância histórica dos trólebus também foi destacada como mais um motivo para a preservação da rede. O presidente da Associação de Funcionários, Ex-Funcionários e Amigos da CMTC, Washington D.C., e outras entidades ligadas à mobilidade e preservação do patrimônio articulam para que a rede — ou ao menos a linha 408A — seja tombada, evitando a retirada total da infraestrutura. Para esses especialistas, além de uma política equivocada de mobilidade e meio ambiente, isso representaria um desrespeito aos investimentos e esforços de quem ajudou a desenvolver o transporte coletivo na capital.
Relembre:
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O Diário do Transporte relembrou que, em 23 de julho de 2025, ao entregar novos ônibus elétricos a bateria, o prefeito Ricardo Nunes afirmou que a rede de trólebus seria desativada com a inauguração do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), prevista para 2029 e 2030, restrita apenas ao centro da cidade.
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Um estudo da Rede Respira São Paulo, que reúne técnicos, especialistas e representantes da academia, e conta co9m colaboração de Jorge Françozo, mostra que seria desperdício de infraestrutura desativar os trólebus, que atendem regiões mais distantes, em favor do VLT, concentrado apenas no centro. O estudo não é contrário ao modal sobre trilhos, mas defende que os dois podem conviver harmoniosamente, como ocorre em diversas cidades da Europa.
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A ameaça se agravou depois da possível desativação da rede de trólebus, com o pedido da Ambiental Transportes Urbanos, operadora justamente da primeira linha, que foi palco do passeio neste domingo. Revelado de forma exclusiva com fontes oficiais da SPTrans (São Paulo Transportes), gerenciadora da capital, na última semana.
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Neste domingo, 17 de agosto de 2027, o Diário do Transporte flagrou, no Terminal Parque Dom Pedro II, um trólebus travando o acesso de outros ônibus após a queda da alavanca da rede aérea — uma das reclamações frequentes dos passageiros. Entretanto, a indústria, inclusive nacional, afirma que já existem soluções tecnológicas para reduzir ou até eliminar esse problema, como alavancas pneumáticas.
Há também modelos de trólebus com pequenas baterias reservas que permitem percorrer alguns metros até a reconexão. Outra solução é o E-Trol, um ônibus que pode funcionar por longos trechos tanto conectado à rede quanto com bateria, carregando-a enquanto trafega, além de ser cerca de 30% mais barato na aquisição e manutenção.
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Especialistas internacionais também defendem a manutenção dos trólebus em São Paulo, mesmo com a implantação do VLT. Para a capital, o modelo E-Trol foi apontado como alternativa.
O consultor em mobilidade elétrica da União Internacional de Transportes Públicos (UITP), Arnd Bätzner, que esteve nesta semana no seminário em São Paulo, reforçou que esse tipo de tecnologia é amplamente utilizada em diversas partes do mundo e pode ser uma solução adequada para a cidade.
Relembre:
Especialista Internacional da UITP defende o uso dos trólebus em São Paulo e cita o modelo E-Trol, do ABC, como alternativa ideal
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Yuri Sena, para o Diário do Transporte