Publicado em: 19 de agosto de 2025
Secretaria de Transportes aprova plano de trabalho para cooperação técnica voltada à demonstração operacional de veículos não poluentes; cidade retoma agenda de eletrificação com meta de reduzir emissões até 2030
ALEXANDRE PELEGI
A Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro aprovou, no expediente de 18 de agosto de 2025, o Plano de Trabalho que abre caminho para a introdução de ônibus elétricos no sistema público da cidade.
No Despacho da Secretária Maína Celidonio de Campos, publicado sob o processo MTR-PRO-2025/25050, foi autorizada a deflagração de Chamamento Público para a celebração de um Acordo de Cooperação Técnica de natureza convenial, nos termos do artigo 184 da Lei nº 14.133/2021 (nova Lei de Licitações e Contratos).
O objetivo é selecionar e analisar soluções inovadoras para a Demonstração Operacional de Ônibus Elétricos no transporte coletivo de passageiros por ônibus do município.
Entrevista exclusiva ao Diário do Transporte
Em junho deste ano, durante o UITP Summit 2025 em Hamburgo, a secretária Maína Celidonio já havia antecipado ao Diário do Transporte que o Rio estruturava um plano para dar início à transição energética no transporte coletivo urbano:
“Estamos aprendendo com experiências internacionais e de outras capitais brasileiras. O Rio de Janeiro não pode ficar para trás na agenda da descarbonização. Queremos usar os próximos dois anos para testar modelos, tecnologias de carregamento e arranjos institucionais que garantam segurança para operadores e benefícios claros ao passageiro”, afirmou.
Segundo a secretária, o processo de cooperação técnica é fundamental para reduzir riscos e custos:
“Não se trata apenas de adquirir veículos. Precisamos de infraestrutura de recarga, de modelos de financiamento e de uma política que estimule a indústria nacional. O chamamento público é um passo importante para trazer inovação e parceiros para este desafio”, acrescentou Maína. Relembre:
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A nova licitação do transporte no Rio
O processo de licitação do sistema de ônibus do Rio de Janeiro, lançado em 2022 após a caducidade da concessão anterior, é peça central para a reorganização da frota e a retomada dos investimentos no setor. O modelo prevê a contratação de empresas para quatro áreas operacionais da cidade, com metas de renovação da frota, cumprimento de oferta de viagens e introdução gradativa de veículos sustentáveis.
A expectativa é que os testes com ônibus elétricos autorizados pelo despacho da secretária se articulem com o cronograma da licitação, permitindo que a tecnologia seja incorporada progressivamente nos contratos de longo prazo, que terão validade de 20 anos.
Relembre:
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Contexto histórico da eletrificação no Rio
A cidade do Rio já ensaiou experiências com ônibus elétricos em diferentes momentos. Em 2015, circulou em caráter experimental um modelo importado, mas sem continuidade devido a custos operacionais. Posteriormente, veículos a bateria foram testados em linhas da Zona Sul e do Centro, mas ainda em caráter restrito.
Nos últimos anos, a discussão voltou à pauta com os compromissos assumidos em relação às mudanças climáticas e à meta municipal de reduzir emissões de gases de efeito estufa em 20% até 2030, tomando como base 2017. O transporte público é um dos maiores emissores urbanos, principalmente pela predominância de ônibus movidos a diesel.
Comparação com outras capitais
Enquanto o Rio retoma os testes, São Paulo já conta com mais de 700 ônibus elétricos à bateria em operação em sua frota municipal, com a meta de chegar a 20% de veículos não poluentes até 2028, segundo a SPTrans. Curitiba iniciou em 2024 os primeiros testes com veículos articulados elétricos em linhas de BRT, dentro de seu plano de descarbonização da frota. Já Salvador e Fortaleza também avançaram em projetos pilotos nos últimos dois anos.
Esses exemplos reforçam a importância da medida do Rio: além de reduzir a dependência do diesel, a eletrificação pode trazer ganhos em qualidade do ar, redução de ruídos e modernização tecnológica do sistema de ônibus.
Debate nacional: diversificação da matriz energética
O tema da transição energética também esteve em pauta no Seminário Nacional NTU 2025, realizado em Brasília. Como noticiou o Diário do Transporte, fabricantes de ônibus e chassis defenderam a diversificação da matriz energética, destacando que, além da tração elétrica a bateria, o Brasil precisa explorar alternativas como gás natural, biometano, biodiesel avançado e até hidrogênio verde.
Segundo representantes da indústria, apostar em mais de uma solução tecnológica é fundamental para atender às diferentes realidades regionais, custos de operação e infraestrutura de abastecimento. Esse debate reforça que cidades como o Rio devem considerar um portfólio variado de tecnologias limpas, evitando dependência de um único modelo.
Essa visão é reforçada pelo debate em torno da necessidade de um portfólio tecnológico para minimizar riscos e adaptar-se aos contextos locais. Relembre:
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O BRT Leste‑Oeste (Eixo Anhanguera), na Região Metropolitana de Goiânia, está em processo de renovação de frota e tomou uma decisão estratégica de diversificar as tecnologias de propulsão. Conforme reportado pelo Diário do Transporte, o sistema adotará uma combinação de 50 ônibus elétricos, 32 veículos a biometano (gás proveniente de resíduos orgânicos) e 48 ônibus movidos a diesel Euro VI, totalizando uma frota de 130 veículos movidos por fontes mais limpas e renováveis
Especialistas consideram essa abordagem acertada, ressaltando que não faz sentido “demonizar o diesel” sem reconhecer os avanços alcançados por melhorias tecnológicas, como no caso dos motores Euro 6 — enquanto se expande o uso de alternativas mais limpas. Esse exemplo prático demonstra que a diversificação energética é possível, eficaz e adaptável a uma transição mais gradual e sustentável. Relembre:
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Próximos passos
Com a publicação do despacho, a Secretaria deverá divulgar o edital do Chamamento Público, no qual serão detalhadas as regras para inscrição de interessados e critérios de avaliação. A expectativa é que os primeiros testes em linhas municipais ocorram já em 2026, caso os acordos de cooperação avancem dentro do cronograma previsto.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes