Publicado em: 23 de julho de 2025
Jogos online foram descartados e disputa em sindicato de trabalhadores também perde força
ADAMO BAZANI
Nesta terça-feira, 22 de julho de 2025, ao falar sobre a considerada até então prisão mais relevante nas investigações a respeito da onda de ataques a ônibus no Estado de São Paulo, do servidor público Edson Campolongo, de 68 anos, que teria confessado participação em ao menos 17 ações, o diretor do Deic (Departamento de Investigações Criminais) da Polícia Civil, Ronaldo Sayeg, descartou que desafios de jogos online sejam a motivação para a sucessão de atos de vandalismo que já danificadaram mais de mil coletivos em todo o Estado, quase 550 só na capital.
Sayeg também disse que disputas dentro do sindicato dos trabalhadores da cidade de São Paulo também perderam relevância nas apurações porque os ataques continuaram depois do encerramento da campanha salarial e não possuem características típicas de ações quando há participação de sindicalistas.
Ficou como mais forte a tese de que a insatisfação de empresas de ônibus com perdas de contratos e disputas por operação podem estar por trás de grande parte dos atos.
O indicativo da Polícia Civil vai na mesma direção do que foi apurado pelo Diário do Transporte até então.
IMPORTANTE: Nem os policiais e nem a reportagem concluíram que seja de fato esta motivação, podendo algumas novas surgirem ou mesmo as enfraquecidas ganharem novos elementos.
Porém, o que a Polícia entende, como já havia demonstrado o Diário do Transporte duas semanas antes das declarações do diretor do Deic, é que há até agora mais materialidade nas questões envolvendo contratos com empresas.
Além das características das ações, documentos, datas que coincidem entre atos administrativos da prefeitura de São Paulo e o início da onda de ataques são para a Polícia o que fazem com que a hipótese até agora seja a de maior indício palpável.
A reportagem, por exemplo, já havia mostrado que a assinatura da portaria que autoriza a transferência de contratos da Transwolff, na zona Sul da capital paulista para a Sancetur, foi no dia 12 de junho de 2025, mesma data considerada como do início dos ataques
A Transwolff é investigada por suposta ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A empresa, alvo de uma intervenção da prefeitura após uma operação do MP (Ministério Público) que resultou na prisão de diretores (grande parte já conseguiu a possibilidade de responder em liberdade), nega.
Relembre reportagem do Diário do Transporte sobre o tema bem antes da coletiva do Deic
PCC, Onda de Ataques a Ônibus, Transwolff e Sancetur: depredações em massa começam no mesmo dia em que prefeitura assina despacho que viabiliza transferência de contratos – VEJA DOCUMENTO
O fato de os ataques terem ocorrido fora da capital paulista também em vez de enfraquecer a tese, para a Polícia só reforça, isso porque pode ser indício de demonstração de força.
Além disso, também foi destacado, tanto pela Polícia como pelo Diário do Transporte ao longo das apurações, que apesar de terem um núcleo central, nem todos os ataques possuem relação, havendo casos de vandalismo que já são corriqueiros e outros que foram feitos por oportunistas.
Ouça as declarações do diretor do Deic aqui neste link
OUÇA – COMPLETO: Polícia descarta “jogos de desafios pela internet” como motivação da onda de ataques a ônibus, minimiza possibilidade de disputa sindical e reforça hipótese de empresas
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes