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Produtores pedem linha de crédito para armazenagem; déficit já chega 120 milhões de toneladas


Com um déficit superior a 120 milhões de toneladas na capacidade de armazenagem de grãos, o Brasil vê crescer a pressão por políticas públicas e crédito direcionado ao setor. A Aprosoja defende a criação de uma linha de financiamento específica no âmbito do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), com condições mais adequadas à realidade do produtor rural. A proposta busca corrigir o descompasso entre a produção agrícola e a infraestrutura disponível para estocagem.

No Congresso, o Projeto de Lei 1070/2024, da deputada Professora Dorinha (União-TO), propõe destinar 10% dos recursos dos fundos constitucionais ao financiamento de estruturas de armazenagem. A medida atende a uma demanda que já é tratada como urgente por entidades do setor e especialistas em logística agrícola.

Em evento da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas Agrícolas (Abimaq), em Brasília, o diretor executivo da Aprosoja Brasil Fabrício Rosa afirmou que seriam necessários cerca de R$ 15 bilhões por ano apenas para conter o avanço do déficit armazenagem — valor mais que o dobro dos R$ 7 bilhões ofertados no Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), dos quais menos da metade, cerca de R$ 3,5 bilhões, de fato chegam ao produtor.

A dificuldade de acesso ao crédito faz com que poucos tomadores consigam aprovar projetos junto aos bancos”

— Fabrício Rosa

A Abiove estima que a taxa de juros ideal para viabilizar os investimentos em armazenagem estaria entre 6% e 6,5%. No entanto, o PCA opera hoje com juros de 7% a 8,5% ao ano, enquanto nos Estados Unidos os financiamentos têm taxas entre 4,6% e 4,75%, e prazos de até 12 anos. Na União Europeia, os juros para armazenagem variam de 2% a 5%, com prazos de até 10 anos.

Déficit estrutural compromete produção

O problema é estrutural. A produção brasileira de grãos já ultrapassa 330 milhões de toneladas, segundo estimativa da Conab, mas a capacidade estática de armazenagem é de apenas 210 milhões de toneladas. O resultado é um déficit de mais de 120 milhões de toneladas, o maior da história. “A situação contrasta com a dos Estados Unidos, que têm capacidade para 130% da produção, enquanto no Brasil esse índice não passa de 63%. O ideal, segundo especialistas, seria uma folga de pelo menos 110%, o que permitiria mais eficiência logística e maior liberdade de comercialização ao produtor”, disse Rosa.

O desequilíbrio provoca cenas cada vez mais comuns de montanhas de grãos expostas ao tempo, o que contribui para perdas expressivas. A Conab estima que cerca de 13% da produção nacional seja desperdiçada por problemas logísticos e de armazenagem — o que equivale a 36 milhões de toneladas ou R$ 84 bilhões por ano, considerando os preços médios de mercado.

Centro-Oeste é o epicentro do gargalo

O Centro-Oeste, principal polo agrícola do país, é também onde o gargalo da armazenagem mais preocupa. Mato Grosso, líder na produção nacional, tem ao mesmo tempo a maior capacidade instalada e o maior déficit absoluto: 80 milhões de toneladas.

Parte do problema está na concentração de estruturas em áreas urbanas ou fora das fazendas. Hoje, 84% da capacidade de armazenagem está fora das propriedades, o que obriga os produtores a escoarem sua colheita rapidamente para terceiros — cooperativas, armazéns privados ou tradings, alertou Rosa. Nos EUA, mais da metade dos silos estão dentro das propriedades, o que dá ao agricultor mais autonomia e eficiência.

Armazenar na fazenda é estratégico

A baixa presença de silos nas propriedades rurais também tem impacto direto na rentabilidade do produtor. “Quando consegue armazenar na própria fazenda, ele colhe com mais calma, reduz perdas por umidade e impurezas, economiza com frete e taxas de armazenagem de terceiros, e ganha flexibilidade para decidir o melhor momento de comercializar sua produção, evitando a venda forçada durante a safra, quando os preços tendem a cair”, afirmou.

Além disso, o produtor consegue aproveitar subprodutos, como palha e resíduos da colheita, para alimentação de animais ou compostagem, aumentando a sustentabilidade da operação.



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