Publicado em: 18 de setembro de 2025
Evento terá a participação de fabricantes também e ocorre na terça-feira (23). Em março, foi a vez do biometano para ônibus “se apresentar”
ADAMO BAZANI
Após os ônibus a biometano (combustível obtido na decomposição de resíduos) se “apresentarem” em um seminário organizado em 25 de março de 2025 pela Seclima (Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas), da gestão do prefeito Ricardo Nunes, na capital paulista; é a vez de debater os ônibus elétricos que, diferentemente dos modelos a gás, já são realidade na cidade, mas como tem mostrado o Diário do Transporte, enfrentam diferentes problemas que impedem a expansão da frota como previu a prefeitura.
O Seminário “Caminhos para a Eletromobilidade Urbana em São Paulo” ocorre na próxima terça-feira, 23 de setembro de 2025, no Memorial da América Latina, zona Oeste da capital e é organizado pela Seclima, Aliança ZEBRA, coliderada pela C40 Cities, o Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT) e a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Além do próprio prefeito Ricardo Nunes, confirmou presença o Secretário Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, do Governo Federal, Dênis Andia.
Entre os temas, estará a infraestrutura da rede de distribuição de energia elétrica, que ainda é insuficiente para dar conta da demanda de ônibus elétricos, principal fator apontado por Nunes para o não cumprimento da meta de frota, que era de 2,6 mil coletivos elétricos até dezembro de 2025, mas no fim de setembro de 2025, quase um ano depois, são apenas cerca de 650 a bateria para um total de quase 13 mil ônibus municipais. Na próxima segunda-feira (22), deve haver a apresentação de mais 100 unidades a bateria no Pacaembu.
Por causa do atraso, Nunes e a concessionária ENEL travam um bate-boca. Nas ações judiciais contra a renovação do contrato da empresa italiana, além da falta de energia e problemas relacionados a quedas de árvores no Verão, o prefeito cita a não adequação da rede que resultou em dezenas de ônibus elétricos zero parados nas garagens sem poder operar por falta de energia.
A ENEL se defende. Como mostrou o Diário do Transporte, a distribuidora promete preparar mais 16 garagens para ônibus elétricos em São Paulo até o fim de 2025 e diz que cumpre os prazos estabelecidos, dependendo das viações entregarem os projetos adaptação dos seus pátios.
Relembre:
Como mostrou o Diário do Transporte, na abertura do seminário sobre biometano (gás obtido da decomposição de resíduos)/GNV para o transporte coletivo, Nunes disse que não quer repetir erro da falta de infraestrutura como aconteceu com elétricos
Relembre:
A questão da falta de planejamento e infraestrutura é que tem diferenciado as realidades no Brasil e em outros países.
Em uma reportagem especial desta quinta-feira, 18 de setembro de 2025, o Diário do Transporte ouviu especialistas das áreas de academia, técnicos, de operação, gestão pública e fabricantes, com os exemplos (mas sem comparações) entre Brasil e China.
Vale a pena ler.
Acesse em:
Diferenças entre panoramas dos ônibus elétricos no Brasil e na China são oportunidades para repensar mobilidade como um todo, para gestores, operadores, fabricantes e especialistas
O Diário do Transporte esteve entre o fim de 2024 e o decorrer de 2025 em diversas garagens e presenciou dezenas de ônibus elétricos à bateria zero quilômetro parados por falta de ligação de energia e adaptação da tensão da rede de distribuição. A maior parte dos bairros da cidade de São Paulo possui redes de baixa tensão e, para carregar estes ônibus, são necessárias redes de média ou alta tensão. Caso contrário, se 50 ônibus ou mais estiverem em recarga ao mesmo tempo (e o número é pequeno para o tamanho das frotas nas garagens da cidade), pode faltar energia para bairros inteiros, afetando casas, comércios e até hospitais.
A prefeitura responsabiliza a ENEL pelos atrasos e não cumprimento desta meta que valeria para o Plano entre 2021 e 2024. Segundo a gestão do prefeito Ricardo Nunes, a ENEL não entregou em tempo as obras necessárias. Agora, diante dos entraves de falta de infraestrutura, a meta para o segundo mandato, 2025-2028, é menor: 2,2 mil ônibus e com uma mudança na redação. Em vez de elétricos, a prefeitura fala em veículos menos poluentes que o diesel. Uma das alternativas que estão sendo consideradas é o GNV (Gás Natural Veicular)/biometano (gás obtido na decomposição de resíduos). A empresa Sambaíba, que opera ônibus na zona Norte da capital, tem investido em estudos para conversão de ônibus a diesel em GNV.
Por lei municipal, até 2038, nenhum ônibus do transporte municipal de São Paulo pode emitir CO2, o que é impossível para modelos que não sejam elétricos. Por isso, que a maior parte de outras formas de energia, como o GNV/biometano, apesar de proporcionar reduções significativas não zeram as emissões deste poluente. Assim, são consideradas alternativas “de passagem, de transição”.
O dilema da cidade e de quem anda de ônibus é que desde 17 de outubro de 2022, por determinação do prefeito Ricardo Nunes, as viações não podem mais comprar veículos a diesel. Como não há infraestrutura suficiente para a meta de elétricos e as outras alternativas são apenas estudos ainda, a SPTrans (São Paulo Transporte), gerenciadora da prefeitura, ampliou a idade máxima permitida dos ônibus de 10 anos para 13 anos. A frota tem envelhecido e itens como ar-condicionado, carregadores USB e suspensões mais macias, encontrados nos veículos mais novos, inclusive nos a diesel, ainda estão indisponíveis em parte da rede municipal.
Mesmo com o padrão Euro 6 atual dos modelos a diesel produzir reduções de emissão na ordem de 75%, Nunes não considera permitir este tipo de tração para os coletivos 0 km.
Para especialistas, este seria um dos erros da eletrificação paulistana de frota: estipular uma quantidade de ônibus elétricos sem ter infraestrutura.
Um dos exemplos anunciados por Nunes e que recebeu referências positivas é a criação de corredores verdes, que seriam eixos de grande demanda com ônibus elétricos e mudanças em infraestrutura como pontos, terminais e estações que contariam com energia solar, além de aproveitamento de água de chuva e maior área de jardinagem.
Ao anunciar, em primeira mão ao Diário do Transporte, um modelo de ônibus elétrico inédito no País com novas tecnologias para o projeto corredores verdes (Caio e-Millenium BRT), o prefeito Ricardo Nunes, revelou que o primeiro eixo que receberá o padrão será o 9 de Julho/Santo Amaro, que liga o centro à zona Sul e é, atualmente, o corredor mais movimentado da cidade. Com chassis/tecnologia BYD, estes ônibus terão um tipo de bateria mais moderno (Blade) que carregam pela metade do tempo e têm ¼ a mais de autonomia que as atuais, além de deixarem cada veículo cerca de duas toneladas mais leves e proporcionarem maior espaço interno.
O Diário do Transporte foi conhecer a produção em Campinas – Relembre:
Especialistas ouvidos pelo Diário do Transporte dizem que antes mesmo de estipular quantidade de frota, Nunes deveria ter optado pelos corredores verdes por, em geral, estarem em áreas de maior infraestrutura, utilizarem ônibus grandes disponíveis no mercado e que, pela capacidade de atendimento de cada veículo, não necessitam de frotas numericamente grandes.
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Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes