Publicado em: 3 de novembro de 2025

Dúvidas sobre eletrificação, com serviços e consultorias chamando mais atenção que produtos, incertezas sobre as melhores formas de financiamento dos sistemas de transportes, e modelos de ônibus cada vez mais nichados são alguns exemplos
ADAMO BAZANI
O Diário do Transporte teve a oportunidade de cobrir presencialmente neste ano de 2025 diversos eventos sobre mobilidade e, dois deles, se destacaram e com realização no mês de outubro:
– a Busworld Europa 2025, a maior feira de ônibus do Mundo, que ocorreu em Bruxelas, na Bélgica, de 03 e 09 de outubro de 2025, à qual o Diário do Transporte visitou a convite de Mercedes-Benz do Brasil;
– o ARENA ANTP, da Associação Nacional de Transportes Públicos, organizado pela OTM Editora, realizado em São Paulo, entre os dias 28 e 30 de outubro de 2025.
Ambos os eventos trouxeram debates e desafios locais, mas também apresentaram semelhanças nos conteúdos e contextos, e que não foram poucas.
Estas semelhanças mostram que, guardadas as proporções e realidades locais, os desafios de mobilidade são comuns em todo o Planeta. No Brasil e no mundo.
Dúvidas sobre eletrificação de frotas de ônibus, com serviços e consultorias chamando mais atenção que produtos; incertezas sobre as melhores formas de financiamento dos sistemas de transportes e como renovar as atuais que mostram esgotamento, e modelos de ônibus cada vez mais nichados são alguns exemplos.
Na Busworld 2025, o grande debate sobre eletrificação foi como cumprir e rediscutir a nova fase prevista na União Europeia para a redução de poluição pelos ônibus, desta vez a chamada Classe 2, que engloba os intermunicipais de padrão semi-rodovário para linhas intercidades e serviços de fretamento;
No ARENA ANTP, como atender a novos contratos de concessão de transportes e metas que exigem redução de emissões pelos operadores, além de satisfazer o ego de alguns gestores públicos que impõem normas e obrigações sem haver condições para o cumprimento;
Parecem realidades diferentes, mas que esbarram nos mesmos desafios e uma pode desenvolver soluções que, com os devidos ajustes, podem servir para a outra. Entres os problemas estão falta de infraestruturas de redes elétricas suficientes, autonomia de baterias e ainda baixa capacitação do mercado para implantar redes.
E em ambos os casos, um movimento comum é que fabricantes estão tomando a frente do processo, se unindo a parceiros de toda a cadeia e desenvolvendo soluções completas junto com operadores e gestores de transportes. Não é a toa que, na Europa, o Grupo Daimler Buses, que engloba a Mercedes-Benz e a Setra, apresentou exemplos de casos nos quais atua desde as obras civis nas garagens até soluções de descarte e aproveitamento de baterias. No Brasil, a Eletra Industrial apresentou o Eletra Consult, serviço de consultoria que orienta as empresas e cidades que precisam eletrificar as frotas de ônibus em todos os processos, desde como preparar os terrenos de terminais e garagens de ônibus, passando pela escolha das melhores linhas de financiamento até o pós-venda e treinamento de mecânicos e motoristas. A Recharge Brasil, por sua vez, mostrou alternativas de como conceber as melhores obras e ajustes nas garagens.
Quanto a financiamentos da operação dos sistemas de transportes, os painéis de ambos os eventos concluíram que as atuais formas de custeio, os subsídios na Europa e as tarifas no Brasil, já eram e precisam ser repensadas. Em ambas as realidades, o caminho apontado foi modernizar contratos e criar novas possibilidades para o transporte coletivo. Na Busworld, os maiores comentários foram sobre a implantação de conexões com outros meios de transportes à rede regular. No Brasil, apesar de o tema Tarifa Zero ter extremizado um pouco as discussões, o foco foi como fazer andar o projeto de Marco Regulatório dos Transportes e, também, a este repórter, as perguntas de participantes que entraram em contato foram sobre a Linha da Saúde de Santo André. Um serviço público regular de ônibus que liga os principais hospitais da cidade do ABC Paulista, com conceito de transporte sob demanda, inclusive usando tecnologia para a roteirização que definiu o trajeto final.
Por fim, na Busworld um dos destaques foram ônibus intermunicipais rodoviários elétricos, mas também os mídis urbanos, os chamados micrões, segmento que se destacou entre os modelos elétricos exibidos no ARENA ANTP com a Eletra mostrando um modelo piso alto de 10 metros na configuração do Distrito Federal e que serve linhas de comunidade de difícil acesso e infraestrutura ruim; a BYD com o lançamento que havia antecipado para o Diário do Transporte do seu piso baixo de 10 metros, e a Caio com Blue Eletric e Volkswagen, com um midi no padrão SPTrans, da capital paulista, eletrificado sobre a base de um chassi que sai de fábrica a diesel.
Assim, ambos eventos foram grandes aprendizados de cobertura jornalística e, se não conseguiram em seus momentos respostas para tudo, uniram ideais e exemplos e ajudaram na construção de uma mobilidade melhor para as pessoas, o que significa, uma qualidade de vida digna de um cidadão, no mais estrito significado do termo.
*Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes*
*editor-chefe do Diário do Transporte – MTb 31.521, formação superior*


