Publicado em: 6 de agosto de 2025
Empresas pedem explicações formais após prefeito do Rio usar termos como “mafiosos” e “delinquentes” para se referir à antiga operadora do sistema de transporte
ALEXANDRE PELEGI
Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2025 – A SEMOVE (Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro) e a Riopar Participações S/A ingressaram com um pedido judicial de explicações contra o prefeito Eduardo Paes. As entidades questionam declarações públicas feitas pelo chefe do Executivo municipal, que usou expressões como “mafiosos”, “delinquentes” e “raposas cuidando do galinheiro” ao se referir à gestão anterior do sistema de bilhetagem eletrônica do transporte público.
O pedido foi protocolado no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro com base no artigo 144 do Código Penal e nos artigos 726 a 729 do Código de Processo Civil. As declarações de Paes, feitas em vídeos publicados nas redes sociais e durante a inauguração do Super Posto do Jaé, em Deodoro, foram consideradas ofensivas à honra e à reputação das instituições envolvidas.
Segundo as autoras da interpelação, as falas do prefeito sugerem, sem apresentar provas, a prática de atos ilícitos e corruptos por parte da Riocard Mais – operadora da bilhetagem até 2022 – e da própria SEMOVE. O documento judicial destaca que ambas são entidades legalmente constituídas, auditáveis e com histórico de colaboração com o poder público.
As empresas argumentam que a operação da Riocard sempre foi realizada com base em contratos privados e sem ônus para os cofres públicos, com dados operacionais transmitidos diariamente à Secretaria Municipal de Transportes (SMTR). “Não há caixa-preta”, afirmam, ressaltando que a bilhetagem viabilizou, inclusive, programas como o Bilhete Único Carioca e a Tarifa Social.
No pedido protocolado, as empresas exigem que Eduardo Paes esclareça suas declarações por meio de 11 perguntas formais:
- Ao utilizar a expressão “mafiosos cara de pau” nos vídeos publicados em suas redes sociais nos dias 12 e 22 de junho de 2025, a quem exatamente o interpelado estava se referindo?
- As expressões e insinuações contidas nos referidos vídeos foram dirigidas à empresa SEMOVE – Sistema de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro S.A. (antiga Fetranspor), à empresa RioPar Participações S.A. ou a pessoas vinculadas a essas instituições?
- Caso afirmativa a resposta anterior, solicita-se que o interpelado indique os fatos concretos e objetivos que fundamentariam a utilização da expressão “mafiosos cara de pau” em relação às referidas instituições.
- Ao utilizar a expressão “delinquentes” durante a inauguração do Super Posto do Jaé, em Deodoro, na Zona Oeste, a quem exatamente o interpelado estava se referindo?
- A expressão e insinuações feitas no evento referido no item anterior foram dirigidas à empresa RioPar Participações S.A. ou a pessoas vinculadas a essas instituições?
- O interpelado confirma que as expressões utilizadas tinham a intenção de imputar às interpelantes a prática de atos ilícitos, corruptos ou moralmente reprováveis?
- As afirmações feitas pelo interpelado se baseiam em algum procedimento administrativo, investigação oficial, relatório técnico ou outro documento que envolva interpelante ou sua controlada? Em caso afirmativo, solicita-se a indicação específica do fundamento.
- O interpelado reconhece que a expressão “mafiosos”, em contexto público e institucional, pode ensejar ofensa à honra objetiva e à reputação de pessoa jurídica regularmente constituída?
- O interpelado reconhece que a RioCard presta informações para a Prefeitura do Rio de Janeiro sobre a bilhetagem?
- O interpelado afirmou que “você paga por ele e a prefeitura paga também, ou seja, você paga duas vezes”. Qual serviço exatamente tem dupla cobrança?
- O interpelado mencionou “enfrentar a resistência desses mesmos empresários da RioCard”. A quais empresários ele faz referência e que resistência tem sido essa?
A SEMOVE e a Riopar não descartam novas medidas judiciais caso as respostas não sejam fornecidas ou sejam consideradas insatisfatórias. A ação marca mais um capítulo na disputa envolvendo a migração do sistema Riocard para o novo modelo de bilhetagem pública “Jaé”, implementado pela Prefeitura do Rio.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes