Publicado em: 17 de junho de 2025
Consultor relatou ao Diário do Transporte suas impressões dos primeiros dias de um dos mais importantes eventos globais sobre mobilidade
ALEXANDRE PELEGI
O Diário do Transporte conversou nesta terça-feira, 17 de junho de 2025, com o consultor Sérgio Avelleda, diretamente de Hamburgo, Alemanha, onde acompanha de perto o UITP Summit 2025, um dos mais importantes eventos globais sobre transporte público. Sócio Fundador da Urucuia: Mobilidade Urbana, Avelleda é Coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório Arq. Futuro de Cidades do Insper. Ele compartilhou suas primeiras percepções sobre as inovações e tendências que estão moldando o futuro da mobilidade urbana.
Diário do Transporte (DT): Estamos curiosos para saber as principais impressões do UITP Summit 2025 em Hamburgo. Qual foi a grande mensagem que você captou até agora?
Sérgio Avelleda: A mensagem mais clara e impactante aqui no UITP Summit é que ônibus e bondes autônomos deixaram de ser apenas um conceito futuro; eles já são uma realidade em implantação. Vimos isso de forma muito palpável.
DT: Você poderia nos dizer o que está impulsionando essa aceleração na adoção de tecnologias autônomas no transporte público?
Sérgio Avelleda: Um dos fatores que mais impulsiona essa adoção é a escassez de motoristas, que tem acelerado significativamente a busca e a implementação de novas tecnologias. Soluções de condução remota e _driverless_ (sem motorista a bordo) já estão em fase operacional em diversos países, como Noruega, Holanda, Alemanha, EUA e França.
DT: Você mencionou exemplos operacionais. Poderia detalhar algum projeto ou caso de sucesso que chamou sua atenção no Summit?
Sérgio Avelleda: Um dos grandes destaques foi o projeto da Sporveien Trikken em Oslo, na Noruega. Lá, os VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) já estão sendo manobrados remotamente dentro do pátio, o que traz ganhos significativos para a operação.
DT: Que tipo de ganhos eles estão obtendo com essa operação remota dos VLTs?
Sérgio Avelleda: Os ganhos são diversos e bastante impressionantes… Há uma redução de tempo de preparação em até 70%, e um melhor uso do espaço disponível no pátio. Há também um aumento significativo da segurança operacional, e isso ajuda na mitigação da escassez de operadores. O sistema é tão eficiente que permite que um operador remoto controle simultaneamente múltiplos VLTs, otimizando todo o fluxo no pátio.
DT: E para além dos VLTs, há algum avanço notável com ônibus autônomos?
Sérgio Avelleda: Sim, foi muito inspirador conhecer o caso da ADASTEC em Stavanger, também na Noruega. Eles em breve vão realizar a primeira operação de ônibus totalmente sem motorista a bordo no país. Isso demonstra o quão perto estamos de ter veículos autônomos rodando em nosso dia a dia.
DT: Quais outras tecnologias ou conceitos estão moldando esse futuro da mobilidade que você observou no Summit?
Sérgio Avelleda: Além dos casos práticos, as discussões aqui focaram em tecnologias como platooning (formação de comboios de veículos), localização indoor, o conceito de gêmeo digital (digital twin) e a integração com ERTMS (Sistema Europeu de Gestão de Tráfego Ferroviário). Todas elas são fundamentais para moldar o futuro da mobilidade e tornar o transporte público mais inteligente.
DT: Olhando para todos esses avanços e tendências, quais são os principais benefícios esperados para o transporte público e, principalmente, para o usuário final?
Sérgio Avelleda: Os ganhos vão muito além da tecnologia em si. Estamos falando de avanços em produtividade, segurança operacional, eficiência energética e, o mais importante, qualidade de serviço ao usuário. A mensagem final do Summit é clara: o futuro do transporte público está se tornando mais inteligente, mais sustentável e mais eficiente, e ele já começou. É um momento muito empolgante para o setor.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes