A superintendente de Planejamento e Avaliação de Mobilidade, Jeanete de Lazare Laginhas, iniciou a apresentação explicando que a reorganização da operação parte de uma revisão das dimensões de qualidade: expectativa, oferta, entrega e percepção. Para ela, o transporte público voltou a ser analisado como experiência — e não apenas como serviço técnico.
“A experiência do usuário não muda só com tecnologia; muda com planejamento, com padrões claros e, principalmente, com informação confiável no momento em que ele mais precisa”, afirmou.
Jeanete destacou que o novo Sistema de Monitoramento e Gestão Operacional (SMGO) foi concebido para atuar em uma cidade que já não segue padrões fixos de pico. “A dinâmica da cidade muda o tempo inteiro. A gente precisa de flexibilidade — e de tecnologia para isso”, explicou. Ela reforçou que a comunicação passou a ser entendida como parte da infraestrutura: “O passageiro precisa saber se haverá desvio, alagamento ou mudança de ponto. A tecnologia tem que servir para dar essa previsibilidade.”
O gerente de Avaliação de Mobilidade e Experiência dos Usuários, Eduardo Castellani Gomes dos Reis, aprofundou o tema central da transformação: a confiabilidade dos dados. Segundo ele, não há sistema avançado capaz de funcionar sem base sólida.
“Nenhuma inteligência artificial salva dado ruim. O passageiro até aceita atraso — o que ele não aceita é informação errada”, afirmou.
Eduardo chamou atenção para a mudança de comportamento dos usuários: “O usuário acha que sabe a hora do ônibus porque sempre fez o mesmo trajeto. Mas hoje a cidade é outra. A ideia é permitir que ele se planeje de verdade.” Ele também ressaltou que integração vai muito além de tarifa: “Integração não é só tarifa ou infraestrutura física. É o passageiro descer do trem já sabendo que o ônibus está chegando — ou que vale pegar outro caminho.”
O diretor de Planejamento de Transporte, Caio Vinicius de Moura Luz, apresentou os números que justificam a robustez do sistema tecnológico: “São 13 mil veículos, 1.320 linhas, 2,3 milhões de quilômetros rodados por dia — 59 voltas na Terra diariamente — e 7 milhões de passageiros. Não existe nada parecido.” Para ele, a capilaridade do sistema é a tradução mais direta do papel social do transporte público:
“96% da população de São Paulo tem um ponto de ônibus a 300 metros de casa. Isso é inclusão social.”
Caio detalhou como a análise de dados tem orientado políticas públicas recentes. O Mamãe Tarifa Zero, por exemplo, surgiu do cruzamento de dados de deslocamento e horários de creches: “O programa tem mais de 99% de aprovação das usuárias e já integra o Plano de Metas da cidade.” Eduardo complementou explicando a criação das linhas temáticas Paulistar, fruto da análise das viagens aos domingos: “Descobrimos que lugares de lazer e centros religiosos eram os grandes polos. Daí nasceram as Paulistar.”
Os impactos diretos da modernização também foram apresentados. O Aquático São Paulo reduziu viagens antes superiores a uma hora para cerca de 20 minutos. A ampliação da frota de ônibus elétricos trouxe ganhos percebidos dentro da operação. “Os motoristas elogiam a redução de ruído. É conforto pra quem dirige — e pra quem viaja”, relatou Caio.
Em resposta à plateia, Eduardo reconheceu que o deslocamento até o ponto tem sido incorporado às análises: “Tecnicamente, deveríamos olhar só pro ônibus. Mas não dá. A experiência começa no caminho até o ponto. Estamos criando indicadores pra medir isso.”
O painel mostrou que a virada digital da SPTrans não é apenas tecnológica — é estrutural. Trata-se de reorganizar processos, padronizar critérios, integrar áreas e transformar a operação em uma plataforma que lê a cidade em tempo real. O uso de dados qualificados, a capacidade de monitoramento contínuo e a integração informacional entre modais foram apresentados como bases para aumentar a previsibilidade, reduzir incertezas e melhorar a experiência de quem depende do ônibus todos os dias.


