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Tarifa Zero reacende debate sobre o abandono do transporte público no Brasil


Legenda: Os ônibus seguem reféns do congestionamento. Como ter qualidade assim? (Foto: A.Pileci)

Enquanto a gratuidade divide opiniões, o sistema atual definha sem receita, prioridade ou atenção política — e a pergunta que fica é: o que ainda pode ser feito?

ALEXANDRE PELEGI

As pessoas costumam dizer que programas de Tarifa Zero são inviáveis porque “não há dinheiro para isso”. Curiosamente, as mesmas pessoas não percebem que o transporte público já funciona sem dinheiro — e por isso está à beira de um colapso.

No atual sistema, operando com frotas reduzidas e frequência insuficiente, o passageiro não encontra aquilo que mais deseja: regularidade e confiabilidade. Se o Tarifa Zero, hipoteticamente, aumentaria a demanda e exigiria mais ônibus, o fato é que o sistema já está defasado hoje — mesmo com tarifa. A deficiência é estrutural e diária.

Outro ponto negligenciado é a falta de prioridade viária. As cidades seguem gerindo mal o espaço público, mantendo o ônibus sempre na rabeira das decisões urbanas. Critica-se o Tarifa Zero, mas não se discute o quanto custa ao passageiro cada minuto perdido no congestionamento. O debate sobre a mobilidade se deslocou do coletivo para o individual, e o espaço urbano passou a ser tratado como território de disputa entre veículos, não de cidadania.

O resultado é um transporte público fora da pauta social e política. Nem prefeituras nem cidadãos parecem se incomodar mais. Quem pode, migra para alternativas individuais: motocicletas, mototáxis por aplicativo, carros. O transporte coletivo, sem apoio e sem política, definha.

Nesse contexto, a proposta do Tarifa Zero tem ao menos um mérito: recoloca o tema na mesa. Mesmo que a resposta seja “não dá para fazer”, a pergunta essencial continua sem resposta: o que dá para fazer, então, para melhorar o transporte público?

Alguns dirão que isso já está previsto no novo Marco Regulatório do Transporte Público, parado no Congresso. Mas a realidade é que o debate político estacionou — e, sem ele, o ônibus continua perdendo prioridade, passageiros e futuro.

O problema não é se o Tarifa Zero cabe no orçamento.
O problema é que o transporte público já está quebrado — e ninguém parece se importar.
O Tarifa Zero, ao menos, traz de volta a pergunta que importa:
o que é possível fazer para salvar o transporte coletivo no Brasil?

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em Transportes



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