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transição para ônibus elétricos nos EUA enfrenta incertezas sob governo Trump


Governo Trump suspendeu liberação de recursos do programa que financia a substituição de ônibus escolares a diesel por modelos elétricos ou de emissão zero

Programas estaduais, como na Califórnia, ganham protagonismo diante da suspensão de subsídios federais para ônibus escolares e da pressão de tarifas sobre baterias importadas da China

ALEXANDRE PELEGI

A semana de 29 de setembro a 4 de outubro de 2025 foi marcada por uma série de notícias sobre transporte público elétrico nos Estados Unidos que revelam os avanços e os obstáculos da transição.

Entre os destaques, a Highland Electric Fleets, empresa norte-americana especializada em oferecer frotas elétricas como serviço (fleet-as-a-service), anunciou parceria com o comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 para mobilizar uma frota de 500 ônibus escolares elétricos já em operação.

Ao mesmo tempo, sistemas locais como o B-Line, rede de transporte público que atende o condado de Butte, no norte da Califórnia, colocaram seus primeiros veículos elétricos em circulação. Também na região de Chicago, o distrito de Schaumburg Township inaugurou uma microfrota de paratransit elétrica — serviço de transporte público porta a porta voltado principalmente a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, que complementa a rede de ônibus regulares.

No entanto, o pano de fundo é de maior cautela. A fabricante NFI Group, conglomerado canadense que controla as marcas de ônibus New Flyer e MCI, confirmou recall de aproximadamente 680 ônibus elétricos, motivado por risco de falha em células de bateria. Agências como a Trinity Metro, operadora de transporte público que atende a região de Fort Worth (Texas), retiraram temporariamente veículos de circulação após recomendação do fabricante. Também em Nova Jersey, a NJ Transit, segunda maior operadora de ônibus dos Estados Unidos, foi diretamente impactada por campanhas de segurança que incluíram modelos elétricos testados pela companhia.

Essas ações foram conduzidas com base em determinações da NHTSA (National Highway Traffic Safety Administration), agência federal responsável por fiscalizar a segurança veicular nos EUA, que identificou falhas de solda e riscos de superaquecimento em determinados lotes de baterias.

Impacto das políticas de Washington

Esses movimentos ocorrem em meio a incertezas criadas por decisões do governo Trump. Logo no início do mandato, a Casa Branca suspendeu a liberação de recursos do EPA Clean School Bus Program — programa da Agência de Proteção Ambiental dos EUA que financia a substituição de ônibus escolares a diesel por modelos elétricos ou de emissão zero. A indefinição sobre os vencedores da rodada de 2024 do programa — etapa de financiamento que havia recebido inscrições até janeiro daquele ano — tem levado operadores e autoridades locais a adiar cronogramas de eletrificação.

Além da suspensão de subsídios, outro fator vem pesando no bolso das operadoras: o governo Trump elevou de forma significativa as tarifas sobre importações vindas da China, especialmente de produtos considerados estratégicos. As baterias de íon-lítio foram diretamente atingidas. Hoje, sobre elas incidem taxas que, somadas, podem superar 50% de sobretaxa, além de tributos específicos sobre insumos críticos, como o grafite usado nos ânodos, que sozinho passou a pagar quase 93% de tarifa. Como a China domina a cadeia de fornecimento desses materiais, o impacto é imediato: cada módulo ou célula necessário em manutenção ou substituição chega ao mercado americano muito mais caro, o que encarece contratos de compra e aumenta os custos de eventuais recalls.

Estados assumem a dianteira

Para não interromper a transição, governos estaduais e municipais têm buscado alternativas. Na Califórnia, programas próprios de financiamento e subsídio vêm compensando a ausência de apoio federal. Distritos locais também têm recorrido a modelos de fleet-as-a-service, em que empresas como a Highland fornecem ônibus, infraestrutura e manutenção em troca de contratos de longo prazo, reduzindo a exposição inicial de capital.

Especialistas ressaltam que a eletrificação de frotas nos EUA entra em uma fase decisiva: enquanto eventos como as Olimpíadas de 2028 servirão de vitrine, as políticas federais podem acelerar ou frear a consolidação do mercado. Até lá, a aposta recai cada vez mais sobre a resiliência e a capacidade de resposta de estados e municípios.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes



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