Publicado em: 23 de julho de 2025
Irmão de funcionário público que confessou ao menos 18 depredações se entregou e também foi preso. Polícia descartou jogos de desafios pela internet como motivação. Insatisfação de empresas com fim de contratos ganha força entre as linhas de investigação
ADAMO BAZANI
Colaboraram Yuri Sena e Vinícius de Oliveira
OUÇA AQUI TODA A RESPOSTA COMPLETA DO PREFEITO RICARDO NUNES E DO SECRETÁRIO CELSO CALDEIRA A ADAMO BAZANI:
E SOBRE A OPERAÇÃO DELEGADA AQUI:
Enquanto ganha força a linha de investigação que considera como uma das principais motivações para a onda de ataques a ônibus em São Paulo a insatisfação de empresas em relação a contratos, a prefeitura da capital paulista diz que avança o processo de retirada do sistema de transportes de duas viações suspeitas de ligação com o crime organizado. A previsão é de que em 60 dias, a Transwolff, da zona Sul, seja substituída definitivamente pela Sancetur, da família Chedid, e a UPBus, da zona Leste, dê lugar a Alfa Rodobus, que já atua na cidade.
Transwolff e UPBus foram alvos de uma operação do Ministério Público em abril de 2024 que apura lavagem de dinheiro da facção criminosa PCC no sistema de transportes, entre outros crimes. Desde então, a prefeitura iniciou uma intervenção em ambas e concluiu que não devem mais continuar prestando serviços.
A Polícia investiga o fato de a onda de ataques, que já soma mais de mil coletivos depredados em todo o Estado, ter começado no dia 12 de junho de 2025. Exatamente a mesma data em que a prefeitura de São Paulo publicou uma portaria constituindo o grupo de trabalho responsável pelo processo de substituição da Transwolff e da UPBus.
É apenas uma suspeita e não é possível ainda fazer uma ligação, mas, para a Polícia Civil, não deixa de ser um indício com materialidade.
Em resposta ao jornalista Adamo Bazani, do Diário do Transporte, na manhã desta quarta-feira, 23 de julho de 2025, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, questionou as declarações desta terça-feira (22) do diretor do Deic (Departamento de Investigações Criminais), Ronaldo Sayeg, que descartou os jogos de desafios pela internet como uma das causas das depredações, assim como reduziu a possibilidade de os casos estarem relacionados com disputas internas no sindicato de motoristas.
Segundo Nunes, não há problemas de contratos na cidade de São Paulo e já está decidido que ambas as empresas investigadas não vão mais operar.
SONORA
Em nota ao Diário do Transporte, a Transwolff repete as alegações de 10 de julho de 2025 e diz que não há fundamento nas acusações.
Nunes ainda disse que conversa com o Comando da Polícia Militar para colocar PMs de folga e à paisana, na operação delegada, em linhas e empresas com maior número de ataques.
As rotas estão sendo estudadas e a estimativa é de cerca de 200 policiais, mas o número exato ainda vai ser definido.
Enquanto isso, se entregou também nesta quarta-feira (23) ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de São Bernardo do Campo (SP), Sérgio Aparecido Campolongo, de 56 anos.
Ele é suspeito de, juntamente com o irmão Edson Aparecido, de 68 anos, ter participado de diversos ataques a ônibus, em especial no ABC Paulista e em parte da capital.
Como mostrou o Diário do Transporte, Edson foi preso nesta terça-feira (22), e segundo o Deic, ele confessou ter atacado ao menos 18 veículos do transporte coletivo, sendo 16 apenas em São Bernardo do Campo.
Edson também teria participado do ataque a ônibus na empresa Alfa Rodobus, na Avenida Jorge João Saad, na Zona Sudoeste de São Paulo, onde um garoto de 10 anos, que estava dentro do coletivo, ficou ferido; mas está fora de risco.
De acordo com depoimento de Edson, o irmão Sérgio atuou em ao menos dois destes 18 ataques. A Polícia pediu a prisão preventiva de ambos, e foi atendida pela Justiça.
Sérgio estava considerado foragido.
ACOMPANHE A TRANSCRIÇÃO DA RESPOSTA:
Ricardo Nunes: Olha Adamo, começar pelo final. Evidentemente, nem eu, nem você, somos a Polícia Civil para falar ou ter uma posição em relação à investigação. Mas a sua própria pergunta eu acho que é uma boa resposta para o delegado. Se no ABC não tem problema de contrato, se na Baixada Santista não tem problema de contrato, se em Carapicuiba, Osasco, Guarulhos não tem problema de contrato e lá está tendo depredação, me parece que a linha que ele está colocando ou não é para todos os locais ou ele está se referindo só a cidade de São Paulo. Se ele descartou essas questões, vamos aguardar o que a Polícia Civil tem pra colocar. O Vitor Hugo, que é o presidente da SPTrans, que inclusive é delegado de polícia, está acompanhando junto com o secretário Celso e tendo reuniões quase que diárias com o pessoal da Polícia Civil. É muito difícil pra mim fazer um comentário sobre a colocação dele, a não ser a própria pergunta que você fez. Se não tem problema de contrato nesses locais e ele tá dizendo que pode ser problema de contrato, aí acho que ele precisa responder a sua pergunta. Aqui a gente também não tem problema de contrato. Aqui a gente sempre foi muito claro e objetivo. Transwolff e UpBus fora, acabou. Não tem acordo. Tá resolvido isso. Elas já estão fora do sistema. Tá tendo já o processo de substituição. Evidentemente é um contrato grande, 1.200 ônibus de um, e 150 na UpBus. Tem toda uma questão jurídica. A gente teve uma situação de que o Ministério Público não queria que os diretores da Transwolff participassem das mesas com relação à alteração. A gente colocou pro juiz ‘como é que o cara que assina não pode participar?’. O juiz concedeu, a gente corrigiu. Então às vezes a gente vai tendo alguns percalços que foram corrigidos. Mas está tudo bem. Com relação ao prazo de conclusão da substituição, eu não vejo a hora de tirar o nome Transwolff e UpBus dos ônibus e colocar o nome da nova empresa. Eu tô ansioso igual você, pra falar a verdade.
Celso Caldeira: O prazo para concessão de todas essas duas empresas que o grupo de trabalho estabeleceu é de 60 dias. O grupo de trabalho está na segunda reunião. São reuniões semanais e às vezes duas vezes por semana. Todo o processo administrativamente está caminhando. O que não depende exclusivamente da administração, o Ministério Público e a Justiça têm nos apoiado bastante. Então a previsão é que em 60 dias a gente tenha o processo de transição concluído para os novos concessionários.
MATÉRIA ANTERIOR:
Transwolff e UPBus desaparecem em 60 dias e Nunes diz que 200 PMs a paisana devem atuar nos ônibus
Prefeito diz que reuniões com comando da PM vão definir quais trajetos e empresas que devem receber parte desse efetivo
ADAMO BAZANI
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o secretário de Mobilidade e Transportes, Celso Caldeira, disseram que, em 60 dias, estará definitivamente concluída a transição de contratos de duas empresas de ônibus investigadas por suposta ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital) para outras viações.
Nunes disse que é o primeiro a não querer mais ver, na cidade, a Transwolff, que opera na zona Sul e será substituída pela Sancetur, da família Chedid, do interior paulista, e pela UPBUS, da zona Leste, que terá o contrato repassado para a Alfa RodoBus, companhia que já atua na zona Oeste.
Tanto a Transwolff como a UPBUS foram alvos, em 9 de abril de 2024, de uma operação do Ministério Público de São Paulo que investiga possíveis crimes, como lavagem de dinheiro do crime organizado. Os diretores de ambas as empresas, alguns que chegaram a ser presos na operação, negam.
Desde então, a prefeitura fez uma intervenção em ambas as viações e concluiu que elas não têm condições de seguir no sistema.
Nesta terça-feira (22), durante entrevista coletiva sobre a prisão considerada mais importante até agora a respeito dos mais de mil ataques a ônibus desde 12 de junho, em todo o Estado de São Paulo, um servidor público, que confessou 17 atos de vandalismo, o diretor do Deic, Ronaldo Sayeg, descartou que as motivações sejam desafios de jogos online e disse que perdeu força a tese de disputas entre sindicalistas.
Assim, até o momento, ganha mais relevância a possibilidade de insatisfação de empresas sobre contratos, embora haja outras linhas, como motivações políticas.
Relembre:
Principal linha da investigação sobre ataques a ônibus reforça apuração feita pelo Diário do Transporte
A onda de ataques começou em 12 de junho bem no dia que foi publicada a portaria que institui o grupo de Trabalho dessa transição a que Nunes e Caldeira disseram que será concluída em 60 dias.
É prematuro ligar os ataques à transição, mas é um dos indícios materiais da investigação
Nunes ainda disse que conversa com o Comando da Polícia Militar para colocar PMs de folga e à paisana, na operação delegada, em linhas e empresas com maior número de ataques.
As rotas estão sendo estudadas e a estimativa é de cerca de 200 policiais, mas o número exato ainda vai ser definido.
Em nota ao Diário do Transporte, a Transwolff repete as alegações de 10 de julho de 2025 e diz que não há fundamento nas acusações.
Veja na íntegra:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
A Transwolff Transportes e Turismo Ltda. esclarece que não há qualquer fundamento nas alegações de suposta relação da empresa ou de seus representantes com atividades ilícitas. A empresa repudia veementemente qualquer tentativa de associação com organizações criminosas.
A Transwolff segue se defendendo nas instâncias competentes e colaborando com as autoridades. O processo de intervenção em sua operação permanece em andamento junto à Secretaria Municipal de Transportes e ao Poder Judiciário.
A empresa também esclarece que não participou da escolha da Sancetur. A Transwolff não tem conhecimento de eventual processo de seleção ou disputa entre empresas.
Quanto ao grupo de trabalho criado pela Prefeitura para tratar da transferência dos contratos e do patrimônio da empresa, o procedimento permanece sub judice. A comissão foi formada sem representantes da Transwolff, o que já foi formalmente questionado no processo administrativo. A empresa aguarda autorização judicial para qualquer participação, considerando que seus sócios estão impedidos de exercer atos de gestão por decisão judicial.
A Transwolff reitera seu compromisso com a transparência e a regularidade de suas atividades, em respeito à população e aos seus colaboradores.
Transwolff Transportes e Turismo Ltda.
São Paulo, 10 de julho de 2025
Adamo Bazani , jornalista em transportes
Colaborou Yuri Sena