Publicado em: 22 de novembro de 2025

Alstom destaca na Conferência do Clima como o sistema carioca impulsionou inovação, revitalização urbana e produção industrial no país; modelo é apresentado como vitrine do potencial ferroviário nacional
ALEXANDRE PELEGI
Na COP30, realizada em Belém, o Brasil destacou um projeto já operacional de mobilidade elétrica sobre trilhos, com impactos mensuráveis na redução de emissões: o VLT Carioca, implantado no centro do Rio de Janeiro a partir de 2016. O sistema foi repetidas vezes citado nos painéis do primeiro Pavilhão de Transportes da história das COPs, patrocinado pela Alstom, como exemplo real de descarbonização urbana, revitalização econômica e reorganização de espaço público.
A vice-presidente global de Sustentabilidade & RSC da Alstom, Véronique Andriès, afirmou que o VLT do Rio representa exatamente o tipo de solução que a conferência precisa multiplicar: “Ele mostra como parcerias estratégicas podem gerar inovação, transformar áreas degradadas e criar cadeias industriais capazes de sustentar um mercado regional de mobilidade de baixo carbono.”
Revitalização urbana, redução de emissões e transformação do centro do Rio
O VLT do Rio marcou a reconfiguração de parte do centro da cidade e da zona portuária, com substituição de automóveis, reorganização de cruzamentos e redução do ruído urbano. O sistema, operado por tração elétrica, eliminou emissões diretas, substituindo milhares de deslocamentos diários que antes dependiam de modais a diesel.
O projeto se tornou marco internacional ao integrar passagem livre entre modais, operação sem catenária em parte do trajeto e ciclovias conectadas ao sistema. Hoje, o VLT é usado como case em debates sobre:
- mobilidade ativa integrada ao transporte público,
- requalificação urbana,
- ampliação de acessos a serviços e comércio,
- substituição de viagens motorizadas de pequeno percurso.
Impacto industrial: o VLT que ajudou a viabilizar Taubaté (SP)
Durante a COP30, Véronique destacou que o VLT do Rio não se limita ao impacto urbano: ele foi determinante para impulsionar o investimento na fábrica da Alstom em Taubaté (SP), hoje referência latino-americana em produção de material rodante moderno.
A planta passou a abastecer não só o mercado brasileiro, mas também demandas internacionais — incluindo projetos na América Latina, África e Ásia. Para a empresa, o caso do Rio demonstra que cada novo sistema metroferroviário no Brasil gera efeitos econômicos muito além da operação, fortalecendo cadeias de fornecedores, engenharia local e tecnologia nacional.
VLT como instrumento para metas climáticas brasileiras
O sistema carioca foi utilizado na COP30 como argumento de que o Brasil pode e deve assumir metas mais ambiciosas de mobilidade limpa em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs – Nationally Determined Contributions). As NDCs são planos nacionais previstos no Acordo de Paris, nos quais cada país estabelece suas metas de redução de emissões e as políticas para cumprir esses objetivos, atualizados periodicamente com maior ambição.
A lógica é simples: quanto mais cidades brasileiras adotarem VLT, metrô, monotrilho e trens metropolitanos, mais rápida será a redução de emissões — especialmente nos centros urbanos que concentram congestionamentos e poluição.
O transporte representa cerca de 22% das emissões globais, e o ritmo de crescimento é maior que o de outros setores. A narrativa brasileira na COP30 reforçou que a solução passa por:
- mudança modal,
- eletrificação do transporte coletivo,
- prioridade para sistemas guiados,
- integração efetiva com caminhada e ciclismo.
O papel dos créditos de carbono e do Artigo 6 na expansão de VLTs e metrôs no Brasil
A COP também trouxe ao debate experiências internacionais que podem servir ao Brasil. A Alstom apresentou o estudo de créditos de carbono da Linha 3 do Metrô de Mumbai, que prevê redução anual de 261.968 toneladas de CO₂.
Para a América Latina, onde muitas redes ferroviárias ainda dependem de diesel ou têm expansão lenta, o Artigo 6 do Acordo de Paris foi apontado como ferramenta crucial para financiar projetos como novos VLTs, metrôs e corredores sobre trilhos. O Artigo 6 permite que projetos de baixa emissão, como sistemas ferroviários, gerem créditos de carbono negociáveis para financiar parte de seus investimentos. Os créditos podem representar até US$ 6,5 milhões por ano em receitas extras para sistemas de baixa emissão.
O painel contou com a presença do BNDES, reforçando interesse brasileiro no tema.
Brasil no mapa da indústria ferroviária global
A celebração dos 70 anos da Alstom no Brasil reforçou a mensagem de que o país tem base industrial sólida para sustentar a expansão de modais guiados. A empresa emprega cerca de 1.500 pessoas e atua em sistemas metroferroviários de:
- São Paulo
- Rio de Janeiro
- Porto Alegre
- Fortaleza
- Recife
Além disso, exporta material rodante para Argentina, Colômbia, Chile, Panamá, República Dominicana e Taiwan, consolidando o Brasil como polo de engenharia ferroviária.
O VLT como símbolo da COP30 — e do futuro
Segundo a Alstom, a presença do VLT do Rio nos discursos e painéis da COP30 simbolizou o recado que o Brasil quis transmitir ao mundo: é possível transformar cidades ao instalar sistemas sobre trilhos, reorganizar seu espaço urbano e reduzir emissões de forma estrutural.
Para a empresa, a mensagem central foi clara: “Descarbonizar o transporte não é só clima — é desenvolvimento urbano, industrial e social. O VLT do Rio sintetiza esse potencial.”
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes


