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Walter Barbosa, da Mercedes-Benz, defende planejamento realista e tecnologias combinadas na transição energética do transporte público


Vice-presidente de Vendas, Marketing e Peças & Serviços Ônibus da fabricante alerta, em entrevista ao Diário do Transporte, que eletrificação sem infraestrutura e visão de longo prazo pode comprometer orçamentos e atrasar renovação de frotas

ALEXANDRE PELEGI

A transição energética do transporte público no Brasil precisa ser encarada de forma realista, combinando diferentes tecnologias e evitando soluções únicas para um país de dimensões continentais. A avaliação é de Walter Barbosa, Vice-presidente de Vendas, Marketing e Peças & Serviços Ônibus da Mercedes-Benz, em entrevista ao Diário do Transporte durante o evento da NTU, em Brasília, nesta quarta-feira, 13 de agosto de 2025.

Segundo ele, muito se fala em eletrificação, mas nem todos os municípios têm condições de adotar essa tecnologia de imediato. “O Brasil tem 5.500 municípios, cada um com sua realidade, demanda e disponibilidade de recursos. A única certeza que a gente tem é que uma única tecnologia não vai atender o país todo”, afirmou. Para Barbosa, a grande saída é combinar soluções como veículos Euro 6, biocombustíveis, elétricos, hidrogênio, biogás e biometano, adaptando-as a cada contexto.

O executivo destacou que, desde março de 2023, está em vigor o Proconve P8, que estabeleceu a tecnologia Euro 6 para novos ônibus, reduzindo em até 80% as emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) e em 50% o material particulado. “O Brasil é rico em produzir combustíveis limpos a partir de biocombustíveis. Hoje já temos 14% de biodiesel na mistura, e a meta para 2030 é 20%”, explicou.

Entre as alternativas em teste, Barbosa cita o HVO (óleo vegetal totalmente hidrogenado), que pode ser usado em 100% de concentração, e outro combustível ainda em teste obtido por bidestilação (Bivante), com potencial de reduzir o CO₂ entre 50% e 70%. “São tecnologias que podem ser colocadas com mais facilidade, porque não exigem infraestrutura complexa”, disse. Mas Barbosa que ainda não tem há oferta adequada para o país, “mas é uma tecnologia que pode ser explorada. Elétricos e hidrogênio também têm papel importante, mas exigem investimentos elevados e redes de apoio adequadas”.

Para o executivo da Mercedes-Benz, o ponto central é o planejamento. “Realista não é a tecnologia, é o planejamento. É saber quem vai pagar, como vai pagar, e quais pilares vão sustentar a transição. Não adianta comprar dez ou vinte ônibus elétricos se não houver condições de operação ou manutenção”, alertou. Ele questiona, por exemplo, se é mais vantajoso ter três mil ônibus elétricos e oito mil Euro 5, ou renovar toda a frota para Euro 6, alcançando ganhos ambientais mais amplos.

Barbosa critica a prática recorrente de escolher o veículo antes de definir a demanda e a infraestrutura. Como o Diário do Transporte tem acompanhado, muitas vezes o poder público anuncia uma tecnologia de impacto sem ter estrutura para recebê-la. Isso compromete orçamento e receita, como ocorre com a tarifa zero em algumas cidades, que começa bem, mas sem sustentabilidade acaba interrompida.

No portfólio da Mercedes-Benz, segundo ele, há soluções para diferentes realidades: “Produzimos desde Euro 3 até Euro 6, todos preparados para trabalhar com até 20% de biocombustível convencional. Os motores estão aptos a receber 100% de HVO, e já fornecemos cerca de 200 ônibus elétricos em operação em São Paulo. O importante é ter flexibilidade: se a garagem suporta 50 elétricos hoje, que sejam 50; o restante pode ser Euro 6.” Essa flexibilidade, afirma, passa por políticas públicas mais claras.

O executivo defende que o Marco Legal do Transporte Público pode ajudar a criar parâmetros unificados, como uma NBR mais detalhada para ônibus urbanos. Ele dá como exemplo a A NBR 15570, norma técnica da ABNT que estabelece os requisitos para a fabricação de veículos de característica urbana para transporte coletivo de passageiros.

Encerrando a entrevista, Walter Barbosa afirma que tem esperança na aprovação e implementação do Marco Legal. “Vejo hoje entidades e empresas mais unidas, e mesmo que não se alcance 100% do que desejamos, estaremos no caminho certo”, concluiu.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes





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